20 Apr 2024

Publicado em DIVANIR BELLINGHAUSEN
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Não tenho as datas em que meus avós alemães vieram para o Brasil. Eram filhos únicos. Como meu avô Guilherme Bellinghausen faleceu quando meu pai tinha 11 anos, muito da história foi perdida. Eles se casaram aqui em S. Bernardo do Campo, como consta na certidão, em 28 de novembro de 1896. Entre os guardados de minha avó Katharina Guttbier, encontramos cartas de primos seus que foram morar em outros países após a primeira grande guerra. Com uma caligrafia antiga, feita com pena de caneta, nos foi traduzida há anos, pela mãe alemã de uma secretária bilíngue da Volkswagen. Ela nos disse que a mãe chorava ao fazer a tradução. Pensamos então como a vida de meus avós e seus pais foi diferente ao virem para este país abençoado. Vamos lá... a uma das cartas...
Frau Katharina Bellinghausen-Villa da São Bernardo- São Paulo- Brasilien (assim está endereçada e foi escrita no ano de 1932)
Querida Prima
Você vai estranhar de receber uma carta minha após tanto tempo. Na verdade, eu sempre quis lhe escrever, mas tinha perdido seu endereço. Agora o encontrei e quero fazer um relato de minha vida do que aconteceu em todos esses anos. Já sou viúva há quatro anos. Meu marido sofreu um acidente fatal no dia 4-2-1928, deixando-me sozinha com meus cinco filhos. Até agora ainda estão todos em casa, menos uma que está trabalhando na Holanda. Nenhum deles casou e você pode imaginar o que passei com os filhos e sem marido. Minha pensão é de 102 M por mês; disso tenho que pagar M 25,25 por mês de aluguel, além de carvão e tudo o mais que precisamos. Aqui a situação está péssima; todos estão desempregados. Quem está trabalhando são os mais velhos, enquanto a juventude está parada. Talvez vocês tenham lido no jornal como está a situação na Alemanha. Durante a guerra a situação não estava assim como agora. As outras três meninas e uma menino estão em casa. A mais velha tem 22, uma 21, uma sete e o menino 12 anos.
Querida prima, além disso quero informar que meu irmão Karl se mudou para a Rússia há três semanas. Ele estava sem serviço e recebia 15 M por semana de auxílio, o que não dava para sustentar a família com três filhos. Decidiu mudar para a Rússia para tentar a sorte lá, mas escreveu e parece que não melhorou muito. A irmã Irma está casada aqui na Alemanha e também já tem dois filhos. Ela casou cm um alemão e não é mais estrangeira, mas nós ainda não somos naturalizados e seria melhor se fossemos alemães, pois se pedimos alguma ajuda oficial sempre dizem: Vocês são estrangeiros e não têm nada a reclamar. Mas não nos naturalizam porque já há muitos desempregados na Alemanha. Há dois anos estive em Lotsh (Lodz-Polônia) por causa de meus documentos, aí vi toda a miséria lá; eu ia ficar 4 semanas, mas depois de duas semanas já voltei para casa. Meu irmão Johann tem nove filhos e ela faleceu no décimo, quando eu estava lá. Fiquei assustada com a casa deles, um barraco sem assoalho e eles não têm dinheiro para colocar. Os russos tinham feito trincheiras lá, e agora as pessoas têm que morar ali, acho que nem posso descrever toda a miséria que encontrei. O irmão Otto também faleceu deixando a mulher e 4 filhos. Aí eu vi como estava Lotsch. Até que na Alemanha estamos vivendo melhor. A irmã Martha não tem filhos e o marido está desempregado, e a irmã Frieda tem um filho, o marido dela está no exército e ela está trabalhando deixando a criança com outra pessoa. Encerro esta carta na esperança de que ela os encontre com saúde, assim como nos deixou. Respondam logo e mandem lembranças a todos os parentes que estão no Brasil.
Olga Celanowski
(Hamborn III Alexstr. 49 a
Rheiland (região Reno- Alemanha)
Talvez seja por essas memórias que meu pai com os cinco filhos reunidos a mesa, quandovirávamos o nariz para alguma comida, ele dizia: Aprendam a comer de tudo. Se tiverem que enfrentar uma guerra vão cavar a terra até encontrarem uma raiz para matarem a fome!
Amigos...vamos agradecer a nossa vida...
Um abraço, Didi

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