18 Apr 2024


A herança que meu pai nos deixou... (II)

Publicado em DIVANIR BELLINGHAUSEN
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Em noite de “lua boa” (sempre era noite de lua boa!) passávamos o picaré. Uma hora e meia após o jantar, marcado no relógio, tempo necessário para fazer a digestão. Ele puxava o picaré na frente e pelo menos quatro das meninas atrás. As outras eram responsáveis pelas sacolas para carregar os peixes, balde para os siris e as lanternas. Em noites após as chuvas, o programa era caçarmos rãs. Íamos pelos charcos, com os sacos lanternas e forquilhas. Paralisávamos as rãs com a luz das lanternas. Outro de nós pegava a bichinha com a forquilha (tadinhas). Era a maior farra. Dia seguinte? Quem caça ou pesca, limpa e come. Vocês já limparam rãs? Corta-se a cabeça e os pés, tira-se a pele como se fosse a roupa de um homem rã.  Com os nervos se atrofiando, depois de morta ela continua se mexendo. Alguém inventou, (lógico que foi meu irmão) que quem comesse ou engolisse três corações de rã ainda pulsando, teria coragem para o resto da vida. Só eu não caí nessa. Até hoje as “meninas” se enojam, como tiveram “coragem”.
Cipós amarrados nas árvores, imitando o Tarzan!  Quantos tombos...
Jangadas ao mar!
As histórias, muitas do Pedro Malazartes, eram contadas e encenadas. Quem as conhece, sabe.
Jogos de cartas: buraco, canastra, pôquer. Com os pequenos, burro em pé, rouba - monte, dominó. Tênis e futebol na praia...
Naquele tempo, ainda não se surfava, mas nós praticávamos o esporte na areia. Quando os colchões da casa da praia tinham que ser trocados, eram uns 15, feitos de capim (ou crina?), meu pai amarrava-os atrás do carro e íamos surfando pela praia. Quantos traseiros queimados quando os colchões se desfaziam. Quantos tombos! Na falta dos colchões, ele amarrava tábuas, que fazia na fábrica, para pegarmos ondas, mas serviam também para deslizarmos sobre a areia.
Ele adorava circos. Íamos a todos. Em casa imitávamos o que víamos. Ele fazia mágicas incríveis. Com baralhos e tudo o que tivesse as mãos. Costumava pegar um lenço ou uma gravata de um novato da turma de amigos nossos, e os picava durante a demonstração para desespero do mesmo. No final não o recompunha, lógico. Pegava então uma peça de seu armário e dava ao “voluntário”.
Nas brincadeiras de esconde-esconde, subíamos até no teto da casa, e na fábrica, dentro dos guarda-roupas, montes de madeira e sob o cavaco.
A caixa da mesada da casa era a mãe. Ele tinha outra forma de nos dar os “cruzeiros”. A casa era rodeada por jardins. Ele nos mandava, cada filho limpar um canteiro. Encontrávamos moedas pela terra. Muito ingênuos, só mais tarde percebemos que era ele que as espalhava pela terra, para nos incentivar a mexer nela, gosto que conservamos até hoje.
Com dinheiro papel, ele juntava um bolo com as notas de menor valor, e quando assistíamos a TV, ele as jogava para o alto na sala, gritando:
-“ALELUIA... ALELUIA”... era uma farra!
Ele não gostava de ver os pássaros presos. Desde que se casou, sempre teve grandes viveiros para que as aves voassem livres. Quando fomos morar na casa da Rua João Pessoa construiu um viveiro do tamanho de uma casa. Alto como um sobrado. Ele tinha, como se fossem uma sala e três quartos, com comunicação para a parte mais alta (a sala). Nesses quartos, ficavam os pequenos pássaros, com seus ninhos. Eram canários, bicos-de-lacre, saíras, azulões, tiês-fogo, corrupiões, cardeais, periquitos australianos, enfim, não me recordo dos nomes de tantos pássaros.  (Continua)
Um abraço, Didi

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