18 Apr 2024


Minha mãe: Odette, uma mulher a frente de seu tempo

Publicado em DIVANIR BELLINGHAUSEN
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Odette Tavares Bellinghausen nascida Odette Celeste Viegas Tavares nasceu em Santos dia 30 de julho de 1915 filha dos portugueses Assumpção e João Domingues Tavares. Com dois anos se mudaram para Moema em SP. Filha única lia muito e se dedicava ao estudo de piano e de pintura. Vinham muito para São Bernardo, onde tinham a Vila Tavares, hoje Vila Gonçalves. Deu seu primeiro de concerto de piano aos 13 anos. Seu pai era presidente do Centro Republicano Português. A menina Odette era quem fazia as homenagens aos convidados do Centro. A família era fluente em conversas em francês. Seu pai, importador de artigos europeus, com a guerra, veio a perder tudo. Aí tem uma história. Linda e triste. Aos 16 anos ela veio com os pais morar em São Bernardo. Dava aulas de pintura e piano. Começou a namorar o filho de alemães Alberto Eduardo Bellinghausen e com ele se casou no dia 2 9 de fevereiro de 1936. Ele, com seu irmão Carlos Theodoro, começava a fabricar móveis. Ela ajudava a manter a casa com suas aulas. Em 1938 nasceu o filho Ronald. Em 1939, eu, Divanir ou Didi. 4 anos depois de mim, a Amarylis, a Lili. 7 anos depois a Suzana e 14 anos após, a Rosa Maria. A pequena Amarylis ao nascer, ficou em perigo de vida. Odette então fez uma promessa de que se ela sobrevivesse, fundaria uma associação. Assim em 1945 começou a Associação Beneficente Bartira. Foram centenas de pessoas carentes ajudadas por 30 anos. A secretária sempre foi a Carmen Tabet Marques e a tesoureira a Lucimar Tondi. Para manter a associação, contava com a ajuda de empresários da cidade e, como musicista que era, junto da sociedade da cidade, fazia a apresentação de shows , com o coral Bartira, onde as moças se apresentavam sempre em trajes soirée e os homens de smoking. Abib Riskallah foi sempre o apresentador. As famílias que participavam eram: Zoboli, Médici, Rossi, Takeshita, Fabri, Portinari, Gerbelli, Sparvolli, Nascimento, Lima, Tondi, Margonari, Pasin, Tavares, Bellinghausen, Ascensio entre outras. Os shows no cine Anchieta gentilmente cedido pela família Cheidde, ficava lotado com mais de mil pessoas, tanto na plateia como na parte superior, ficando algumas em pé como atestam as fotos que estão no Centro de Memória. Geralmente eram dois shows por ano, pois além da ajuda mensal em alimentos aos necessitados, havia as campanhas de Inverno, com cobertores roupas e alimentos, e a do Natal, com roupas, alimentos e brinquedos. A sociedade de São Bernardo colaborava muito, uma vez que não havia outra entidade no município. Alguns dos shows marcantes que ela organizou: Festa inaugural da Bartira, Flores de Maio, Quarto Centenário, Pró Livro (início da biblioteca) Show da Vitória (homenagem a Lauro Gomes) entre outras Cirandas, Noite da Peneira, audições anuais no dia de Santa Cecília, etc.
Quando Odette e Alberto se casaram foram morar na esquina das ruas Dr. Flaquer com a Tomé de Souza. Em 1943 para a rua Carlo Del Prete, onde hoje é a Escola Terra Mater. Em 1946, para a João Pessoa, esquina com a Dr. Flaquer. A vida toda moraram no mesmo quarteirão. Quando saíram da Carlo Del Prete, casa onde havia sido a primeira escola das Irmãs na cidade, Odette sonhou em que aqui devia ter uma escola para rapazes, uma vez que o colégio das freiras só aceitava meninos no primário. Assim protelou aceitar condôminos até que apareceram os irmão Mauro e Amauri, mineiros que então inauguraram o Colégio D. Leonor Mendes de Barros, em homenagem a esposa do governador. Odette achou que deviam dar um nome relacionado com a cidade. Assim depois eles iniciaram o curso de contadores dando o nome de Cacique Tibiriça. Ela foi a paraninfa da primeira turma de formandos.
Participou da fundação de vários clubes relacionados a arte na cidade, como: Clube Humberto de Campos, Clube das Artes, Asba, etc. Sempre fazendo parte da diretoria.
Desde que para cá veio, não se conformava da cidade não ter uma biblioteca. Assim em 1945 fundou a Biblioteca Monteiro Lobato em sua casa até o município ter um local apropriado. Foi acumulando livros de doações e os adquirindo na Editora Melhoramentos. Íamos de ônibus para São Paulo e de taxi até a editora. Eu ia junto e adorava isso. Folhear e escolher os livros infantis...
Em 1968 se formou finalmente no Conservatório Santa Cecília em Santo de André, em harmônica e piano. Expert no teclado, cursou por três anos as matérias complementares. Mais um sonho realizado. Foram centenas de alunos que com ela aprenderam os instrumentos. Ela também era trovadora, compositora, tendo tido vários prêmios. Durante a vida toda colaborou com jornais escrevendo matérias semanais.
Próximo ao ano 1975, havia na rua Filomena Cassilhas uma indústria Química Harshaw, que estava poluindo a redondeza. Odette escreveu uma letra para a música Maringá, Maringá. Fez uma reunião com os vizinhos prejudicados, e num sábado, com a indústria trabalhando, percorreu o local com moradores: empreiteiros, marceneiros, advogados, médicos, dentistas, donas de casa etc, todos com as crianças, cantando a música com letra citando o problema, Em uma semana o Dr. Tito Costa, prefeito na época, deu ordem de fechamento da empresa. Ela era decidida e polêmica. Aos 80 anos deu sua última audição no teatro Cacilda Becker, sendo carregada ao palco em sua cadeira de rodas. Isso em 1995. Nesse ano, teve um AVC e em três semanas, no dia 14 de outubro, veio a falecer. Foi sempre uma mulher simples, sem luxo, uma das coisas que eu admirava muito nela.
Eu, a Didi, escrevi sua despedida para a Folha do ABC, dizendo que ela partiu rodeada de amigos e até o dia chorou por ela, pois caia uma triste garoa na cidade
Odette foi uma mulher muito a frente de seu tempo. Falar sobre ela é muito mais do que foi dito até aqui. Tenho muito orgulho em ter sido filha dela e de meu pai, pois me transmitiram o que é crescer em meio ao amor, e me deixaram essa linda história de vida. Em sua autobiografia ela termina com essas palavras: "Tudo o que faço, faço com muito amor! Esse é talvez o meu segredo para vencer na vida. Todos temos nossa cota de dificuldades, revezes e desgostos. Mas, se soubermos enfrentá-los com coragem, paciência e otimismo, tudo passará e virão dias melhores. Minha religião é: Fazer o Bem, amar o próximo como a si mesmo, não ter orgulho e sim humildade. O mundo é lindo, os homens é que o tornam mau e feio com suas ações, Amemos os animais e as plantas, protegendo-os contra a destruição, pois como nós e tudo o que mais existe, eles foram criados por DEUS."
Não tenho escrito muito devido estar em tratamento de quimioterapia, o que me abate bastante. A pedido da Secretaria de Cultura, fiz este texto e agradeço muito por manterem viva essa história da vida de Odette Tavares Bellinghausen, minha mãe. Por ela me atirei as teclas esta semana. Desculpem as falhas.
E viva o dia 8 de março, Dia da Mulher! Sem nós, o mundo não seria Nada!
Um abraço, Didi

Folha Do ABC

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