23 Apr 2024


Lembranças da minha mãe Odette

Publicado em DIVANIR BELLINGHAUSEN
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Há duas semanas ao escrever para o Dia da Mulher, falei sobre minha mãe. Vieram muitos comentários sobre coisas dela que não contei. Assim vai um pouco mais, mas gostaria aqui de falar dela como esposa, mãe, avó, no seu dia a dia.
Falhei ao não contar que foi ela uma das idealizadoras para a cidade ter um Pinacoteca. Tanto que quando ela foi inaugurada no Teatro Elis Regina, no Bairro Assunção, uma das salas tinha o nome dela: Odette Tavares Bellinghausen. A Pinacoteca mudou para o antigo Fórum e a placa de bronze com o seu nome ficou lá jogada com o que sobrou. Um zelador do local a guardou e conservou. Anos depois, sem saberem o que fazer com a placa a colocaram no pequeno Poupa Tempo lá inaugurado. Uma funcionária perguntou-me se ela era moradora de lá e o que havia feito pelo lugar. O que eu poderia dizer? Ela tinha amigos lá e ajudou com livros para a Biblioteca... contar mais... seria uma grande história.
Bom, vamos a ela.... Teve cinco filhos e depois do terceiro perdeu um menino, aos 12 dias que nasceu com um problema cardiológico.
Meu pai construiu uma casa na Praia Grande, ainda deserta, e lá frequentamos desde 1948 até 1961. Depois fomos para Itanhaém.
A primeira casa tinha dois grandes quartos, sala com dois divãs, mesa grande de refeições, terraço onde fazíamos nossos carteados, banheiro e cozinha. Nas férias ficávamos mais por lá com minha mãe e meu pai subindo e descendo pela serra velha. Naquele tempo os carros eram grandes, importados. No banco da frente do carro, que não tinha divisão, iam meus pais, meu irmão e uma das meninas no colo. No banco de trás as outras filhas, primas e amigas. Quando carregávamos a mala, inclusive com o acordeon e a máquina portátil de costura Elna, meu pai dizia: Deixem lugar para o piano. Minha mãe que coordenava tudo. Carregar, descarregar, pondo todos a trabalhar. Lá passávamos o picaré, pegávamos camarões com peneiras no rio que descia do morro e as rãs nas laterais das ruas de areia, nos charcos. Dia seguinte nada de praia enquanto tudo não estivesse limpo. E a casa também. Meu irmão era responsável pelo banheiro. Com aquela grande banheira branca com o chuveiro em cima, ele tinha que passar sapólio diariamente. Tínhamos caseiros, mas eles só eram responsáveis pela casa quando não estava ninguém. Era o costume na época. Assim minha mãe preparava tudo para a tropa. Tínhamos que passar peixes e rãs na massinha e meu irmão os fritava na frigideira. O restante era tudo por conta de minha mãe. Arroz, feijão, batatas, mandioca, salada e sangria. Dias de macarronada acompanhada de carnes, e quando meu pai estava, grandes assadeiras com o arroz de forno. Miúdos de frango, ou frango desfiado, ou peixe acompanhados por ervilha, palmito, ovos cozidos e farto parmesão por cima. No inverno os minestrones (noutro dia dou a receita). Mais tarde meu pai transformou a garagem em dormitório para os rapazes, colocando 6 beliches. Estávamos comentando, as irmãs e as amigas, como minha mãe conseguia dar conta e harmonizar sempre tudo. Ela pescava conosco, nos ensinava a nadar, tocava harmônica nos fazendo cantar e dançar, pegava o ônibus conosco para São Vicente. Sempre de bom humor.
Aqui na cidade de SBC, não era muito diferente. Tinha seus compromissos, mas era uma mulher do lar. Me lembraram que quando a Olguinha Guazzelli ia se casar, na véspera minha mãe reuniu as jovens amigas da cidade e foi até a frente da casa dela com sua harmônica, para fazermos uma serenata de despedida para a noiva. As festas em sua casa eram preparadas pelas jovens, orientadas por ela, 15 dias antes organizando as brincadeiras com os “cotions” para integrar as moças e rapazes. Os casamentos de seus filhos foram lá realizados. Algumas festas dos 10 netos assim como o primeiro ano do bisneto Henrique.
Foi muito bom eu poder contar esse outro lado de minha mãe. A mulher do lar além de artista plástica, pintora, compositora, instrumentista, autora e muitas vezes brincando de palhaça com suas piadas bobas e suas caretas.
Ela vive enquanto nós vivermos… saudades...
Um abraço, DIDI

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