23 Apr 2024

Publicado em DIVANIR BELLINGHAUSEN
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Leitores das minhas crônicas semanais da Folha...
Minha mãe Odette Tavares Bellinghausen faleceu em 14 de outubro de 1995. Neste mês, mexendo em uns papeis dela que guardei, pois, a maioria de sua documentação foi doada para o Serviço de Memória de S. B. do Campo, encontrei alguns artigos que ela escreveu aqui para a Folha em 1986, que conta um pouco sobre a vida de meus bisavós. Vejam bem, não quero retratar aqui minha família, mas sim como era vida em S. Bernardo nos tempos antigos. Foi escrito com toda a veia poética de minha mãe. Acredito que vocês vão gostar. Os artigos se estenderão por algumas semanas, aproveitando o tempo de minha ausência, por motivo de uma visita à minha sobrinha Gigi que mora nos Estados Unidos.
Se deliciem... Um abraço, Didi
Imaginem uma casa simples, pequena, branquinha, entre árvores, flores, animais e hortaliças... na parte da frente, alguns pinheiros lembram a pátria distante, a Alemanha... Intercaladas algumas palmeiras, da nova pátria, o Brasil! E os manacás perfumosos, pintalgados de roxo; os cipós de São João, cor de fogo; os junquilhos europeus, de odor suave; os lírios e as angélicas de perfume inebriante; as singelas margaridas; as papoulas sanguíneas, as hortências azul-celeste... A flor de cera enroscada no tronco de um coqueiro, com suas flores de veludo cor-de-rosa, em umbela, com a estrelinha rubra ao centro. E os amores perfeitos? Pareciam caretinhas de crianças, roxos, amarelos, brancos, vermelhos, azuis...
Mas o canteiro dos cravos é que era uma beleza! Brancos, vermelhos, rosados, amarelos. Mas os mais lindos eram os cravos-chita: brancos, pintalgados de vermelho ou grená, amarelos, rajados de grená ou de cor de laranja. Na cerca de ripas, as trepadeiras se entrelaçavam, num delirio de cores e perfume: - as rosas chorão, os jasmins de armar, as glicínias lilazes.
É madrugada; o sol já vem aparecendo lá embaixo, na Vila Silva. Os galos cantam, respondendo uns aos outros, numa barulhenta conversa de quiqui-ri-quis é co-co-ro-cós. Oma, (vovó), em alemão) Gutbier já começou a sua lida, que só vai terminar ao anoitecer. As vacas já estão mugindo, está na hora de ordenhá-las. Katharina Gutbier já vem trazendo os baldes limpinhos para tirar o leite das vacas. múuu...muuú... Ela aperta as tetas das vaquinhas e o leite jorra, grosso e puro. Kate chama o neto, que mora em frente: - Albert! Albert! E o menino de 8 anos, loiro, de olhos azuis, espigado, alto para sua idade, vem correndo. Ele é o ajudante da avó, entrega o leite, os ovos, os doces, as verduras, frutas... Coloca os alforjes nos ombros, 8 ou 10 litros de leite nas divisões dos dois lados, e lá vai, pelos atalhos do velho São Bernardo, com um pouco de medo, pois ainda está meio-escuro. Há cobras  pelos matos e às vezes aparecem gatos silvestres e mesmo oncinhas.
Mas Alberto gosta mesmo é de ver os passarinhos que existem às centenas, aos milhares nas matas de São Bernardo. Não os prende em gaiolas, já tem viveiro relativamente grande para criá-los, soltando-os quase sempre depois.
A velha Guta continua a sua faina: tratar as galinhas, os patos, os gansos, mais tarde, recolher os ovos, colher frutas, fazer doces e geléias, fazer pão, manteiga e queijo; tratar da casa, cozinhar, lavar a roupa, passá-la com o pesado ferro a carvão. Os doces e geléias eram feitos no fogão à lenha, sobre o qual havia sempre um grande bule de café quentinho. No forno também sempre quente, eram assados os “kuchen”, os pães de milho, centeio ou trigo integral, que os alemães tanto apreciavam, como hoje também.
(Continua)

Divanir Bellinghausen Coppini (Didi) é escritora e voluntária em São Bernardo - e-mail: O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo.

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