19 Apr 2024

Publicado em DIVANIR BELLINGHAUSEN
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01/06/13

Sempre gostei muito das aves. Todas elas. Gosto de vê-las livres, soltas, na terra ou no céu.
De vez em quando sonho que estou recolhendo ovos das galinhas. Acordo feliz!
Meu pai nos criou cuidando das aves em um viveiro do tamanho de uma casa. Dentro dele ficava a casa do poço artesiano. Sobre a casa colocou uma árvore com seus galhos já secos e um tampo de tambor de álcool onde um pica-pau nos acordava bem cedo batendo seu bico nele fazendo um som parecido com uma metralhadora. Na extensão desse viveiro, outro enorme, todos com estrutura de canos encaixados, com tela fina, com árvores dentro para que os pássaros fizessem seus ninhos. Havia mais dois anexos onde ficavam os pássaros menores, mas todos tinham ligação para que as pequenas aves tivessem acesso a todos eles.
Em baixo ficavam jacus, mutuns, saracuras e outras aves maiores. Tínhamos um tucano e uma arara. Os menores eram bicos de lacre, cardeais, canários da terra, belga e do reino, saíras, rolinhas, periquitos australianos, maritacas e muitos mais. Como meus pais tinham um casal de caseiros que cuidavam da horta, o senhor também nos ajudava a cuidar das aves.
Como a comida atraía os ratos, eles faziam canais sob a terra e procriavam. De vez em quando meu pai chamava os cinco filhos e alguns de nossos amigos para a caçada aos nocivos animais. Colocava água com uma mangueira em um dos buracos e nós ficávamos nos outros, com paus, para atordoar os ratos quando tentavam escapar. Aí os pegávamos pelos rabos e colocávamos num balde com água para que não fugissem. O resto ficava por conta de meu pai.
Tivemos um lindo pavão e perus no galinheiro. De vez em quando meu pai levava o pavão e o deixava pelo jardim a volta da casa, até que o deixou preso definitivamente com medo que os cachorros o atacassem.
As rolinhas procriaram tanto que colocamos uma arapuca dentro do viveiro colocando dentro quirera, e quando elas iam comer, puxávamos a cordinha. Elas iam em grupo, assim as pegávamos e soltávamos para viverem livres. Mesmo assim meu pai colocava alimento fora do viveiro para elas comerem.
Quando meu pai faleceu, minha mãe ainda conservou o viveiro que era uma atração na cidade. Mais tarde foi doando os pássaros até que doou também a estrutura e as redes  para dois amigos que também amavam as aves.
Tenho um filho que morava em Cascavel, no Paraná, e começou a criar canários de todas as raças. Eram lindos. Com as penas do branco, amarelo limão até o vermelho. Alguns com as penas como se tivessem feito uma permanente. Tinha mais de 100 aves. Eu não gostava de vê-los presos, mas canários do reino não são encontrados soltos na natureza. Os filhotinhos nasciam, aquelas coisinhas feias, e logo se transformavam em lindas aves.
Um dia ele chegou com um presente para meu marido. Uma gaiola com um jovem canário com suas penas em cor limão e cinza e que cantava divinamente. Ficou na casa da praia alguns anos nos tempos que meu marido morou lá. Quando o Theo faleceu eu o trouxe aqui para o apartamento. Morando no oitavo andar, ele ficou na sacada. Pessoas dos prédios vizinhos me perguntavam de quem era um canário que tinha um canto tão lindo. Adivinhem meu orgulho em dizer que era meu.
Este ano ele começou a trocar as penas e, como sempre quando isso acontece, parou de cantar. Está com os pezinhos deformados e pouco fica no poleiro. Eu coloco diariamente a folha de almeirão que ele adora comer, o jiló e a vitamina, a mistura de alpiste e de vez em quando o ovo cozido e a maçã. Deve estar com mais de 10 anos. Agora descobri: Ele só canta, e muito pouco, quando meus filhos, netos e cunhados chegam perto. Sempre passo uns pitos para ele: eu que cuido de você e você não me dá bola!
Nós vamos envelhecendo e nossos animaizinhos também, Todas as manhãs vou ver se ele ainda continua por aqui.
Qualquer dia sei que ele vai enfim voar..

Divanir Bellinghausen Coppini (Didi) é escritora e voluntária em São Bernardo

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