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Chuvas: quem é o culpado?

Publicado em Editorial
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Todo ano é sempre a mesma coisa. No verão, as chuvas intensas fazem estragos, castigam a população, que perde casa, carro e provoca mortes. O filme, já é um velho conhecido, que se reprisa e, mesmo quem está cansado de assistí-lo, é ‘gentilmente’ convidado pelos atuais políticos.
Os burgomestres bem que tentam amenizar o problema, fazem campanhas informativas, organizam centrais e aplicativos para monitoramento em tempo real das chuvas, porém, tudo não passa de medidas paliativas, que, de fato, não resolvem o problema e estão longe de resolver.
Nessa semana, os números dos estragos mais uma vez impressionaram: 5 mortes no Estado, mais de 142 desabrigados, 516 desalojados, seis cidades em estado de emergência e 7 mil toneladas de alimentos do Ceagesp (Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo) descartados, um prejuízo estimado em mais de R$ 24 milhões. No ABC, inúmeras ruas alagadas em Santo André, São Bernardo e São Caetano. Nem São Bernardo escapou com o novo piscinão do Paço, inaugurado em agosto último. Quatro pessoas de uma família foram arrastadas pela enxurrada, sendo que uma delas morreu.
Todos só buscam os culpados pelos estragos. Seria o meio-ambiente que está castigando as metrópoles com o maior volume registrado para o mês de fevereiro (114 milímetros), desde 1983, quando chegou a 121,9 mm? Seria a própria população que entope bueiros com tamanha quantidade de lixo que joga nas ruas e calçadas, com o descarte irregular de móveis e utensílios domésticos de grande porte nas margens de rios? Ou ainda, seriam, os grandes vilões, os moradores de áreas de mananciais, que constroem suas casas de alvenaria em plena região de mata e próxima aos córregos? Na verdade, todos esses culpados têm uma parcela muito baixa na responsabilidade pelos estragos das chuvas.
Os verdadeiros culpados pelas enchentes e transbordamentos são as canalizações dos cursos d’água, da impermeabilização, ou seja, dos rios enterrados, que ocorreram décadas atrás e, na ocasião, foram apresentados como a verdadeira solução para domar as águas e os municípios poderem crescer sem perturbação. Políticos junto a população aplaudiram a ideia, todos quiseram isso. Mas, a solução prometida não se concretizou e o problema está cada vez pior.
O que restou de solo permeável nas cidades? Optou-se pelo conforto, limpeza, troca do barro, pelo concreto. E as árvores? Parecem que são obstáculos, inimigas que devem ser combatidas e arrancadas, afinal, elas atrapalham a fachada do “meu” comércio, a saída do “meu” edifício, a fiação elétrica, etc. Cada um tem seu motivo particular, e ninguém, se lembra da função das árvores, que dentre outras, promove o equilíbrio térmico e ainda colabora com a absorção da água da chuva, afinal, é plantada em solo permeável. No ABC, elas são arrancadas em plena luz do dia, sem cerimônias, seja para mostrar melhor a fachada de um novo equipamento público recém inaugurado ou simplesmente, por falta de equipe eficiente de fiscalização, feita pelas secretarias de Meio Ambiente, para coibir esses atos ilegais.
Portanto, achar que obras de engenharia, conscientização da população para não descartar lixo pelas ruas das cidades e criticar quem mora em área de manancial é reproduzir a lógica do velho filme que ninguém mais aguenta assistir. Não se pode acreditar que a solução será enterrar mais fundo os rios, ou criar mais piscinões de concreto. Essas decisões erradas e não podem se repetir. É preciso rever o modelo de cidade e incluir, de uma vez por todas, a natureza como elemento ativo e não algo que deve ser controlado, soterrado, enterrado, como é a lógica atual dos políticos.

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