19 Apr 2024


De presidente a ex-presidente

Publicado em Editorial
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De presidente a
ex-presidente

O ex-presidente Lula, após passar a faixa presidencial a nova presidente Dilma, desceu a rampa do Planalto para ir embora. Porém desceu acompanhado de sua esposa Marisa Letícia e também da presidente e do vice. Antes de entrar no carro, Lula quebrou o protocolo e foi para o outro lado da rua onde o povo aplaudia-o. Abraçou e foi abraçado pelos que estavam presentes e que aguardavam a sua saída. A televisão mostrou o ex-presidente chorando no meio do povo. E agora, como fica Lula longe do poder e desse contato com o povo nas suas andanças pelo País?

A resposta para isso não é fácil. No entanto, quem abordou esse assunto com muita propriedade sobre o título "Rei morto, rei posto", no caderno Aliás, no Estadão de domingo (9). foi o professor emérito da Faculdade de Filosofia da USP, José de Souza Martins, que disse: "a passagem de presidente a ex-presidente se dá em questão de minutos. É metamorfose visível nas reportagens de transmissão de poder". Em outro trecho revela que "o dia seguinte inaugura na biografia dos ex-governantes a híbrida condição de "ex". Ele já não é a instituição da Presidência da República, mas continua sendo: teve acesso a segredos de Estado, a informações privilegiadas que não estão ao alcance dos mortais comuns, vê coisas que os outros não enxergaram. Não poderá andar nas ruas sem ser notado. Nem sequer poderá comer um proletário pastel de feira sem o risco de virar notícia. O que na vida comum é mera transgressão alimentar, na de um ex-presidente é comida politicamente incorreta. O que na rua é comida de esquerda, na vida dos ex-poderosos é comida de direita".

 Diz ainda Martins que "um ex-presidente tem que fazer esforços para voltar a ser o que era. E nunca conseguirá plenamente. Em entrevis-ta à revista Piauí, Fernando Henrique Cardoso referiu-se a isso: ter que fazer o próprio check-in nos aeroportos, carregar as próprias malas, procurar ele mesmo o táxi, enfrentar filas. No curtíssimo espaço de um mandato, muita coisa muda; de dois mandatos, muda muito mais. É preciso reaprender a movimentar-se. Quem depender de emprego para sobreviver terá que aprender muito mais. Lula, se tivesse que voltar para a fábrica, teria que aprender uma nova profissão, pois a sua, a de torneio mecânico, praticamente não existe mais, foi substituída por computadores".

 

Em outro trecho, Martins enfoca que "na cessação do mandato que engendra o ex-presidente, o único que lhe resta é a memória do povo. Mas nem todos se tornam memoráveis". Apenas três. Getúlio, JK e FHC, receberam galardão por diferentes motivos e modos: "a memória de Getúlio é imperecível, grava numa definição de tempo histórico: "o tempo de Getúlio"; JK, porque se confunde com sua obra, especialmente Brasília; e FHC descobre seus méritos de governante nos aplausos espontâneos que recebe nos lugares a que vai e por onde passa". Algo parecido deve acontecer com Lula: "a multidão na Praça dos Três Poderes (...) foi para resgatar Lula do poder que o fizera refém, trazê-lo de volta para o povo. Depoimentos e manifestações de populares mostram isso claramente: o boteco, o grupo de futebol, os restaurantes de comida gordurosa, tudo afetuosamente a sua espera. Lugares e pessoas que não mudaram à espera do homem que já não pode ser o mesmo".É isso aí.
Última modificação em Terça, 25 Janeiro 2011 19:04
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