18 Apr 2024


O Brasil das lamentações

Publicado em Editorial
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Em apenas dois meses de 2019, já tivemos dois trágicos acidentes, com diversas vítimas fatais, que poderiam ser muito bem evitados: o rompimento de uma barragem da mineradora Vale, em Brumadinho (MG); o trágico incêndio que matou dez adolescentes no Ninho do Urubu do clube Flamengo, no Rio de Janeiro. Esses são apenas dois exemplos de como funcionam as coisas no Brasil.
E, por conivência da mídia, que acaba fazendo, na sua maioria, uma cobertura sensacionalista, propagando o “showrnalismo”, ou seja, fazendo da notícia um verdadeiro espetáculo, como escreveu o jornalista José Arbex Júnior; com reportagens ricas em imagens das tragédias, com depoimentos em lágrimas dos sobreviventes ou familiares que perd-ram entes, replicando diversas mensagens de lamento de personalidades e celebridades nacionais e internacionais publicadas em suas redes sociais.
Mas, o que realmente seria fruto do verdadeiro trabalho jornalístico de apuração, investigação, com informações sobre punição dos culpados, acaba ficando para o âncora complementar a reportagem com uma breve frase. Ou são inseridas de maneira rápida e sucinta no final da matéria.
Em Brumadinho, 165 mortes foram confirmadas e 160 pessoas seguem desaparecidas. Somente, na segunda (11), que o Ministério de Minas e Energia (MME) determinou a abertura de processo administrativo para apurar o rompimento da barragem. A Justiça do Trabalho determinou o bloqueio de mais R$ 800 milhões nas contas da Vale S.A. para assegurar pagamentos e indenizações trabalhistas a vítimas. Ao todo, a Vale já teve cinco bloqueios de recursos, totalizando R$ 12,6 bilhões. Porém, segundo consta a preocupação dos empresários da companhia é com a expansão das minas do Córrego do Feijão, onde ocorreu o desastre, pois obtiveram autorização do governo de Minas Gerais. Afinal, as intervenções aumentariam a capacidade produtiva em quase 70%, passando dos atuais 10,6 milhões de toneladas de minério de ferro por ano para 17 milhões.
Já no Flamengo, reportagens foram publicadas pela Rede Globo e pelo site de notícias G1 em defesa do clube, afinal, não foi falta de investimento, pois o clube, nos últimos seis anos, elevou muito o investimento nas categorias de base. Em 2013, verba direcionada às divisões juvenis rubro-negras foi de quase R$ 4 milhões. Neste valor há custos com alojamento, alimentação, transporte, vestuário, comissão técnica e o que mais envolver jovens jogadores. As temporadas se passaram com reajustes em todas elas, sempre para cima, até chegar a pouco mais do que R$ 19 milhões em 2018 – a considerar apenas nove meses entre janeiro a setembro.
O presidente do Flamengo, Rodolfo Landim, só se manifestou sobre a tragédia da história do clube, passadas mais de 36 horas do acidente. Para ele, os picos de energia após o temporal que caiu sobre o Rio de Janeiro, entre quarta e quinta-feira da última semana, resultaram nos curtos-circuitos no alojamento das divisões de base do clube. Porém, vale lembrar que o “Ninho do Urubu” está descrito como estacionamento no último projeto de licenciamento aprovado pela Prefeitura do Rio de Janeiro, em abril de 2018. E, em um intervalo de pouco mais de um ano, a Secretaria Municipal de Fazenda do Rio multou o Flamengo 31 vezes por irregularidades no Centro de Treinamento do Ninho.
A impressão que fica, e que se confirme, evidentemente, é que no Brasil, não há interesse, por parte do poder público ou privado, em prevenção, não há investimentos para se evitar futuras tragédias. Só se faz algo depois que o sangue de vítimas inocentes é derramado, que vidas são brutalmente tiradas. No Brasil, reina o acaso, e enquanto ele permitir, nada irá acontecer, afinal, “Deus me livre, vire essa boca pra lá”.

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