24 Apr 2024


O crime organizado dos mananciais

Publicado em Editorial
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No Brasil, quando se pensa que já foi visto de tudo, e que nada mais surpreende, um “novo” acontecimento veio para indignar a todos, ainda mais um pouco. Terrenos protegidos por leis ambientais, em ao menos 24 áreas na cidade de São Paulo, têm sido alvo de invasões criminosas, desde o ano passado.
As invasões estão concentradas na Zona Sul da Capital, sendo a maior parte nos mananciais das represas Guarapiranga e Billings. Segundo matéria do jornal O Estado de S.Paulo, há forte suspeita de que parte dessas invasões seja coordenada pelo crime organizado, com a venda de terreno, por até R$ 100 mil. Com isso, o abastecimento de água para 5 milhões de paulistanos será prejudicado.
As regiões mais atingidas são Parelheiros, M’Boi Mirim, Capela de Socorro e Pedreira. Alguns casos relatados na denúncia apontam que no Jardim Gaivotas, no Grajaú, há cartazes que anunciam lotes de 125 m² com entrada a partir de R$ 10 mil. No Jardim Castro Alves, o metro quadrado vale o dobro. No anúncio de divulgação dos lotes, os dizeres impressionam: “sem comprovação de renda, sem consulta de SPC e Serasa, financiamento próprio”. Já em Cidade Tiradentes, a reportagem do jornal flagrou um loteamento a todo vapor em plena luz do dia. Nele, os ‘investidores’ abriram uma avenida de terra, com uma escavadeira Komatsu avaliada, nada menos que R$ 200 mil. O curioso, no mínimo, é como um equipamento deste porte foi deslocado, pela cidade de São Paulo, até o local, com 13.265 kg e cerca de 8 metros de altura, sem que a secretaria municipal de Infraestrutura Urbana e Obras de São Paulo ou algum fiscal da Prefeitura tivesse conhecimento? Os locais dos loteamentos ainda são vigiados. Há guaritas de madeiras, improvisadas, no alto.
Talvez o ‘esquema’ só tenha ganhado notoriedade, pois, segundo autoridades, as invasões eram coordenadas por Wanderley Lemes Teixeira, conhecido como Manolo, morto há dois meses. Manolo, que foi candidato a vereador pelo PcdoB, em 2016, e depois, em 2018, se candidatou a deputado estadual pelo PR (atual PL) era investigado sob suspeita de se associar a facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC) na invasões. As invasões revelam que o crime organizado apenas viu nessa forma de atuar, um novo ‘nicho de mercado’, ou seja, outro meio de enriquecer, com a venda irregular de lotes nessas áreas de proteção.
E quem irá arcar com os ônus deste lucrativo negócio serão 5 milhões de paulistanos. Não só pelo fator ambiental, o desmatamento de área de preservação, pois isso, infelizmente, não é apelativo num país que lidera o desmatamento de florestas tropicais em todo mundo, sendo o país que mais perdeu árvores em 2018, 1,3 milhão de hectares de florestas primárias. Mas, pela poluição no reservatório de água.
Segundo o diretor do Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo (USP), Marcos Buckeridge, as invasões ameaçam a qualidade hídrica. A perda da mata impede a limpeza natural da água, ao mesmo tempo em que a ocupação joga mais poluição no reservatório.
Ou seja, será aumentado drasticamente o risco de transmissão de doenças, posto que a água ficará poluída, depois será necessário gastar outros tantos milhões para despoluí-la. E quem acredita que essa água será, efetivamente, despoluída?

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