Imprimir esta página

Planejamento zero

Publicado em Editorial
Avalie este item
(0 votos)

O presidente do Magazine Luiza, Frederico Trajano, afirmou, na terça (26), durante teleconferência com investidores, que o caixa da empresa tem fôlego para suportar dois anos de lojas físicas fechadas. Disse ainda que a empresa trabalhou “como se não tivesse conforto”, desde o início da crise provocada pela pandemia de Covid-19.
O exemplo parece ser raro no País. O brasileiro não sabe e não gosta de poupar. Pesquisa recente realizada pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) e pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) mostra que 67% dos consumidores brasileiros não conseguem guardar nenhuma parte de seus rendimentos mensais. Entre os mais pobres, das classes C, D e E, o percentual é ainda maior: 71%. Já nas classes A e B, o percentual de não-poupadores é de 54%, o que revela que o hábito de poupar dinheiro não é frequente mesmo entre pessoas que recebem um salário maior.
A situação não é diferente se tratando dos negócios. O Brasil é um país de empreendedores.
Levantamento da Global Entrepreneurship Monitor (GEM) mostra que, em 2019, o país atingiu o número de 52 milhões de brasileiros que possuem negócio próprio. Deste total, 9,03 milhões são microempreendedores individuais (MEIs), segundo pesquisa do Sebrae. Porém, milhares destes empreendedores têm baixa educação financeira e acabam não se planejando a curto prazo. A dificuldade é ainda maior para planos a médio e longo prazos.
Muitos empreendedores ainda não separam suas finanças pessoais das finanças da empresa e fazem retiradas indevidas, misturando o dinheiro pessoal com o da empresa. O fato é mais comum do que se imagina, mas, é alarmante, pois representa uma falta de controle financeiro importante e torna muito difícil, para a empresa, superar momentos de crise, como esse atual, gerado pela pandemia de Covid-19.
Sem capital de giro adequado, muitas empresas e comércios têm visto suas operações naufragarem durante a quarentena, desde o dia 24 de março último, determinada pelo Governo do Estado, que seguiu as recomendações da Organização Mundial de Saúde (OMS). A grande parcela dos empreendedores, empresários e comerciantes não possuem fôlego financeiro nem de um mês, com seus negócios fechados ou com operações reduzidas.
O resultado disso, por incrível que pareça, não foi, na grande maioria, de unir esforços, e se adaptar a nova realidade, imposta por uma questão sanitária, por um problema de Saúde, de nível mundial. A quarentena, no Brasil, teve como plano de fundo, questões da ordem política e empresarial. Tem sido um verdadeiro jus sperniandi, tamanha pressão, que empresários e comerciantes, mesmo da região do ABC, têm feito, por meio das Associações Comerciais e Industriais dos municípios e ainda para os prefeitos. Com imperativos que beiram a aforismos sem juízo, empresários elevaram o tom da voz, e começaram a repetir, como mantra: “vamos abrir, vamos abrir”.
O que não chega a fazer tanto sentido, pois, no Estado de São Paulo, durante toda a pandemia 74% da economia continuou funcionando. Ficou liberado para todas as empresas e comércios as vendas online, por delivery ou drive-thru. O que não agradou boa parte dos empreendedores brasileiros, acostumados com as formas usuais de vendas, e acomodados com aquela margem de lucro, suficiente para bancar viagens, anuais ou semestrais, ao exterior, desfilarem carros luxuosos e se esbaldarem em restaurantes da moda. Então, o subterfúgio foi lembrar da parte da sociedade em vulnerabilidade social, dos vendedores ambulantes, dois MEI’s e lutar por todos, juntos e unidos, como causa própria, mas, no fundo, pensando no lucro que já não é mais o mesmo.
Infelizmente, o empreendedor brasileiro peca no quesito planejamento financeiro, e, mais ainda, em abrir mão, ainda que temporariamente, de parte do lucro, por uma causa nobre e humanitária, vidas de milhares de inocentes.

Folha Do ABC

A FOLHA DO ABC traz o melhor conteúdo noticioso, sempre colocando o ABC em 1º lugar. É o jornal de maior credibilidade da região
Nossa publicação traz uma cobertura completa de tudo o que acontece na região do ABCDM.

Main Menu

Main Menu