A Ford anunciou na terça (19) que irá fechar a fábrica de São Bernardo neste ano e que vai parar de vender caminhões na América do Sul. A unidade emprega 3 mil funcionários e produz caminhões e o veículo modelo Fiesta. A decisão foi tomada dois meses antes da comemoração do centenário da fábrica no Brasil.

Segundo comunicado oficial da Ford, um dos motivos para o fechamento da fábrica seria o prejuízo que a montadora teria sofrido em 2018, quando encerrou o ano com déficit de US$ 678 milhões em toda a América do Sul, o outro seria que o fechamento faz parte de um plano de reestruturação global da marca, que estabeleceu, há pouco tempo, parceria com a Volkswagen para fabricação de veículos utilitários. A Ford deixará o mercado de caminhões na América do Sul. Outro motivo foi a queda da produção do New Fiesta, modelo fabricado em São Bernardo. A previsão para este ano é de 16.700 carros, cerca de 15% da produção de 2013.

A unidade emprega 2.800 trabalhadores direto, além de terceirizados. Mais de 2 mil famílias foram afetadas indiretamente pela decisão. São Bernardo estima queda de R$ 18,5 milhões em arrecadação com fechamento da Ford.

A montadora prevê um impacto de aproximadamente R$ 460 milhões (R$ 1,71 bilhão) em despesas extras por conta do encerramento das operações. Deste valor, cerca de R$ 360 milhões serão gastos com compensação de funcionários demitidos, concessionárias, fornecedores, outros R$ 100 milhões estão relacionados à perda de valor de máquinas e estruturas que deixarão de ser utilizadas.

Com o fechamento, as operações da Ford ficarão restritas à fábrica de automóveis de Camaçari (BA), onde é produzido apenas o modelo compacto Ka, e à unidade de Taubaté (SP), no interior de São Paulo, onde são fabricados motores.

Na quinta (21), em tentativa de reverter a decisão de fechamento da fábrica, foi realizada reunião, entre o CEO da Ford América do Sul, Lyle Watters; o vice-presidente de Assuntos Governamentais, Comunicação e Estratégia da montadora, Rogelio Golfarb; o governador do Estado, João Doria; e o prefeito de São Bernardo, Orlando Morando. Também participaram do encontro o vice-governador Rodrigo Garcia e o secretário de Fazenda e Planejamento, Henrique Meirelles.

O Estado se comprometeu em ajudar a Ford a buscar um comprador para o pólo e a montadora aceitou a contrapartida de manter os 1.200 funcionários na sede administrativa em São Bernardo e não fazer mudanças ou cortes de empregos nas unidades de Taubaté, Tatuí e Barueri.

Doria classificou o encontro como “positivo e construtivo”. Disse que o objetivo da reunião foi a preservação de empregos. “O governo de São Paulo vai ajudar a Ford a encontrar um comprador para o parque fabril de São Bernardo”, disse Doria.

Os contatos com potenciais investidores interessados em assumir a fábrica já começam na segunda (25). A meta é buscar outra montadora de automóveis que possa absorver os cerca de 1.600 funcionários da linha de montagem. “O governo não fará imposições à compradora. Vamos buscar uma solução de mercado ao lado da Ford”, concluiu o governador.

A Ford se propôs a manter 2.880 empregos diretos em São Paulo. Além dos 1.200 funcionários que continuarão na sede administrativa em São Bernardo, a montadora emprega 1.260 pessoas na fábrica de Taubaté, 250 no campo de testes de Tatuí e 170 no centro de distribuição de Barueri.

“Foi uma extensa e dura reunião. Critiquei duramente a montadora, pois ela fez um anúncio unilateral. Na quarta (20), fiz uma representação ao Ministério Público do Trabalho, onde haverá uma audiência, na terça (26), entre os trabalhadores, a montadora e a Prefeitura. Esta luta não acabou, esta briga não terminou. Vamos continuar nesta batalha ao lado do trabalhador de São Bernardo, porque tenho convicção que podemos construir uma alternativa para o não fechamento desta fábrica”, disse Morando.