Cabe à Curadoria, por ser o órgão máximo de decisões da FUABC, fiscalizar todas as decisões e, ao mesmo tempo, representar o papel de transparência que a Fundação quer ter junto à comunidade. Em função do crescimento da FUABC nos últimos anos, penso que esse papel possa aumentar, talvez com a Curadoria incorporando outros representantes sociais como o Consórcio de Prefeitos e entidades comerciais e industriais. Quanto ao atendimento à população, vamos focar com mais ênfase a humanização em saúde, já que lidamos com um público fragilizado por doenças e nem sempre correspondido devido às limitações da saúde pública em equipamentos.
Folha - A FUABC, que chega aos 45 anos de existência, tem um orçamento anual de R$ 1,1 bilhão. Essa verba será suficiente para administrar a Faculdade de Medicina, 7 cursos de ciências da saúde, 11 hospitais, 3 AMEs (Ambulatório Médico de Especialidades) e uma Central de Convênios que administra 40 planos de saúde pública e 12 mil colaboradores?
Mindrisz -A Fundação do ABC é gestora desses recursos, ou seja, somos contratados, mediante repasse de verbas públicas, a administrar clinicamente equipamentos de saúde mediante pactuação de metas quantitativas e qualitativas. Então, esses mais de R$ 1 bilhão são recursos dos governos municipais parceiros e do governo do Estado que temos de gerir muito bem. Para esse universo de hospitais e unidades de saúde de 2012, esse é o montante previsto de investimentos dos poderes públicos tendo a FUABC como cogestora. Na medida em que formos sendo convidados a assumir novos equipamentos, obviamente vamos estudar a suficiência de novos recursos.
Folha - Na sua posse, 19 de janeiro último, o sr. enfatizou que um de seus planos é consolidar a Fundação do ABC na região. Essa consolidação poderia ser explicada pelo sr. com alguns detalhes, pois fica a impressão que a FUABC, mantida e criada por três prefeituras locais, não teve um bom relacionamento com a região.
Mindrisz - Ao contrário, justamente porque nossas alianças estão cada vez mais fortes com Santo André, São Bernardo e São Caetano nos sentimos qualificados a expandir e estabelecer parcerias com outros municípios da região para que a FUABC seja, de fato, do Grande ABC. Já atuamos no passado em Ribeirão Pires e em Diadema e saímos por alguns problemas jurídicos, jamais pela qualidade dos serviços. O prefeito Mário Reali, de Diadema, na minha posse, disse sem meias palavras que a Fundação é um patrimônio do ABC e quer voltar a trabalhar conosco porque temos o mesmo princípio de fortalecimento do SUS e prioridade à saúde.
Folha - A Faculdade de Medicina vive um bom momento, pois “tirou a nota máxima 5 no ENADE”. É muito difícil manter esse prestígio nos próximos anos?
Mindrisz - Há um ditado que diz que manter-se no topo é mais difícil do que alcançá-lo. A Faculdade de Medicina é a primogênita das mantidas e razão de existir da mantenedora Fundação do ABC. Olhamos com atenção todos os seus passos para que não escorregue na qualidade de ensino e pesquisa, suas atribuições máximas, e reforce seu braço assistencial, pois dependemos dela para cogerir tecnicamente todos os equipamentos de saúde que a FUABC assume. A Faculdade está em excelente momento, pois chegou ao topo do ENADE, criou há dois anos seu Doutorado (algo bastante exclusivo nas escolas de medicina brasileiras) e tem a Residência Médica (especialização) mais concorrida do Brasil. Para 2012 foram cerca de 1.500 candidatos para 140 vagas e em áreas como Oftalmologia houve 24 candidatos por vaga. Nos últimos dois anos, o campus passou por modernização e ampliação jamais vistas, o que melhorou o ambiente de ensino e de assistência ambulatorial. Temos um curso inédito no Brasil, o de Gestão em Saúde Ambiental, o que indica que a faculdade está atualizada com a modernidade tão preocupada com a sustentabilidade do planeta.
Folha - Quais são os caminhos que o sr. pretende seguir nessa aproximação da Fundação do ABC com o Consórcio Intermunicipal do ABC?
Mindrisz - Talvez por desconhecimento, o Consórcio nunca procurou a FUABC e a FMABC para um debate efetivo da gestão regional da saúde. Por termos 7 cursos em ciências da saúde e administrar vários equipamentos em cidades diferentes, adquirimos conhecimento da realidade de cada uma, suas ofertas e carências. Assim, podemos contribuir para melhor integração do Grande ABC nessa área. Gerimos unidades estaduais (Hospital Mário Covas e AMEs em Santo André e Mauá), praticamente todos os principais hospitais municipais, como o Hospital da Mulher, o Márcia e o Maria Braido, o Anchieta e o HMU, além da rede de emergências de SAMUs, PSs e UPAs. Ou seja, podemos usar essa expertise para que os serviços, além de terem padronização de atendimento e de conduta profissional, não sejam repetidos nas cidades e que um município complemente o outro nas especialidades mais complexas. Além disso, por ter boa interlocução com o Estado, podemos trazer uma representação do governador para ampliar a dinâmica no Grupo de Trabalho de Saúde do Consórcio.