25 Apr 2024

Publicado em TITO COSTA
Lido 641 vezes
Avalie este item
(0 votos)

Eu era ainda  jovem,  em 1944, quando vi por três vezes, no Teatro Municipal de São Paulo,  a peça teatral “Vestido de Noiva” de Nelson Rodrigues.  Fascinante!  Autor consagrado: jornalista, escritor, polemista,  foi combatido por uns, os da esquerda, principalmente, como reacionário, porque nunca se dobrou aos fanáticos esquerdistas. A direção dessa versão monumental de Rodrigues, no palco, coube ao Ziembinski,  um polonês radicado no Brasil, talvez o mais expressivo diretor teatral que tenha vivido entre nós. Outras versões dessa peça, por outros diretores e outras montagens cênicas, que também vi, mas nenhuma podia comparar-se à daquele seu genial e  primeiro encenador.  
Tantas outras obras de Rodrigues para o teatro, umas meio malucas  (Álbum de família, por exemplo), outras nem tanto, foram encenadas sob outras direções, sempre com louvores e criticas nos jornais e nas TVs. Nenhuma versão igual à de Ziembinski. Afinal, nenhum autor no mundo, romancistas, teatrólogos, historiadores, em todos os tempos conseguiu unanimidade de críticos ou de leitores, até porque, segundo o próprio Rodrigues, toda unanimidade é burra.
O livro a que me refiro traz excertos da obra rodriguiana, coligidos por sua filha Sonia, despertando sempre  apreciações polêmicas o que por si só, é o reconhecimento de seus escritos permanentes, às vezes proféticos e malucos. Ele mesmo confessa: “Na minha infância profunda o pacto de morte estava em seu esplendor e três casos me marcaram profundamente, me tornaram fascinado pelo suicídio”. Outra: Eu recomendo aos jovens: “envelheçam depressa, deixem de ser jovens o mais depressa possível”. Entenda quem quiser, pois é grave demonstração de maluquice, ou de desencanto com a vida. Ele mesmo confessa ser um escritor mórbido ao ponto de considerar o ser humano um caso perdido. Para tanto teria lá suas razões.
Um filho dele, Nelsinho, tido como subversivo, foi preso e torturado. Tentando libertá-lo foi ao presidente Médici (um dos piores dos governos militares) a fim de pedir fosse ele livrado. Sabedor disso, o Nelsinho disse que aceitava se outros seus companheiros fossem também liberados. Não conseguiu, nem o pai com os contatos que tinha no governo e fora dele. Tido como reacionário, bradou: “Não sou reacionário porque sou pela liberdade. O não reacionário é o comunista que não tem liberdade nem para fazer greve”.  A paixão política, dizia, era cretinizante. “É a única paixão sem grandeza, a única capaz de imbecilizar o homem”. Isso e muito mais foi Nelson Rodrigues, admirado, louvado e satinizado. Como são os gênios. 

Folha Do ABC

A FOLHA DO ABC traz o melhor conteúdo noticioso, sempre colocando o ABC em 1º lugar. É o jornal de maior credibilidade da região
Nossa publicação traz uma cobertura completa de tudo o que acontece na região do ABCDM.

10 comentários

Deixe um comentário

Make sure you enter the (*) required information where indicated.Basic HTML code is allowed.

Main Menu

Main Menu