25 Apr 2024


O mundo simples que nos envolve

Publicado em TITO COSTA
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O  saudoso escritor e poeta Rubem Alves num de seus livros mais interessantes (e ele nos deixou vários) lembra das coisas simples que nem sempre valorizamos, mas que nos encantam quando observadas e que fazem parte de nossas vidas,  ao nosso redor, em nosso dia-a-dia. Ele menciona o poeta inglês William Blake num poema em que diz “Ver um mundo num grão de areia e um céu numa flor silvestre”;  e Octavio Paz, mexicano, lembrando  que “todos os dias atravessamos a mesma rua ou o mesmo  jardim ou mesmo muro, e de repente, num dia qualquer, a rua dá para um outro mundo, nossos olhos batem no mesmo jardim  que acaba de nascer, o muro fatigado se cobre de signos”.
Rubem lembra, também:  a  herança que recebeu de seu pai foi um peso de papel de vidro esverdeado e que “quando olho para o peso de papel, não vejo peso de papel, uma insignificância. Vejo o rosto de meu pai”. (pág. 95 do livro A Ostra Feliz Não Faz Pérola,  Editora  Planeta-SP, 2ª edição).
Eu também vejo o rosto de meu pai num objeto da  maior simplicidade que guardo com carinho: uma pequena tábua, miniatura de uma semelhante  de cortar carne, com as iniciais de seu nome e uma data: JVC – 3-3-63,  José Vicente Costa, especial para picar fumo  com o qual fazia seus cigarros de palha que ele fumava e que produzia em série bem guardada para as tragadas posteriores.
Um de meus filhos, mais observador, pergunta-me para que serve essa  taboinha e eu respondo: ela serve como uma lembrança envolvendo uma  saudade.  Repetindo o Rubem Alves quando se refere a um peso de papel que guarda com carinho, onde ele vê o rosto do pai. eu  também revejo o rosto do meu pai na pequenina tábua onde sua letra deixou gravadas as iniciais de seu nome e uma data. Uma coisa tão simples, uma bobagem que para mim guarda um semblante invisível de um pai ausente para sempre.
Interessante que agora ao 96 anos de idade eu tenho do pai lembranças como essa da taboinha onde picava fumo de corda para as delicias de um cigarro mais forte do que os comprados.
Quando eu, solteiro ainda, ligava pra minha casa em Torrinha, ele atendia com a mesma frase carinhosa: “fala, fio” (esse fio (filho) soava como uma carícia na simplicidade de uma voz amiga, sempre distante e sempre tão perto.
Eis as considerações que me sugere uma pequena tábua de madeira com uma inscrição a mão, de alguém que nunca mais verei.

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