25 Apr 2024

Publicado em TITO COSTA
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Já registrei aqui a existência do livro de João Silvério Trevisan, mas volto a ele nesse dia dedicado aos pais. O título do livro é o que consta do nome desta crônica, que ora registro no domingo dedicado a eles, os pais. Agora mais do que nunca, pois grande número de pais acha-se confinado em seus lares não tanto pela data a eles dedicada, mas desta vez também por  circunstância muito diferente da de outros anos. Estamos na pandemia da presença de um mal que se abate por todo o mundo - o tal do coronavírus espalhando terror e mortes por esse mundo a fora.
O livro é todo ele um hino de terror à figura do pai, um pai diferente no modo de tratar do filho que  usa dessa narrativa para  revelar sua tristeza e seu inconformismo em relação ao desencontro entre os dois. E, por fim, a redenção, a transformação do temor e do ódio numa celebração de amor do autor pelo pai já falecido.
As suas lembranças  sobre um relacionamento diferente, mas por fim transformado em amor e perdão. Ele se redime e explica: é com o peso incalculável de sua ausência que a figura paterna tem marcado sua vida e sua literatura. Embora o pai tivesse sido para ele um verdadeiro tirano, com maus tratos e indiferença, mas que ele no fim acaba por entender sem tempo para redimir-se; esquecendo as maldades  paternas  que recebe por compreensão e amor, que ele acaba por aceitar "nesse tempo propício a lembranças que é a velhice". O pai foi tão maldoso para com ele que num abraço póstumo acabou por compreender que seu pai precisava de proteção. E ele deu-a ao pai.
O alcoolismo tomou conta dele, o pai foi para o autor "uma busca  de êxtase por via do qual buscou superar-se, pois em linha gerais ele se julgou um ateu. Entanto, tendo sido seminarista ele diz: "em linhas gerais eu me julgo  um ateu... talvez graças a Deus - pois não abro mão do sagrado "talvez tenha sido um dos sinais mais inequívocos das bençãos que  a vida despejou em mim".
No fundo, ele foi um filho exemplar, sem saber que era, bem por isso invoca o perdão do Pai "que sempre esteve no meu horizonte como um lixo a ser varrido cuja fragilidade serviu de pretexto para minha recusa em crescer, a quem usei para dissimular os meus defeitos morais, cuja dor sempre foi por mim ignorada. Pai que me ensinou tantas coisas em sua suposta ignorância. Pai que me compeliu  a procurar na misericórdia a artéria central do coração humano, que me fez buscar o amor como um desgraçado em busca da salvação; Pai a quem prometo perseguir o perdão como fio condutor da minha redenção. Pai, não há perdão que não seja mútuo. Peço perdão, meu pai"...
Nos estertores finais desse seu grito de lembranças ou saudades ele fala do pai que existiu, que lhe deu um espermatozoide, esse começo e assim eu gerei um pai. E desabafa: "De repente senti um arroubo interior do menino que apanhava do pai alcoólatra com tapaços na cabeça  e pontapés no trazeiro, chorei. E naquele choro me dei conta de que aquele garoto tinha crescido, aprendera a arte de contar histórias, fazer perguntas ao mundo e se aproximar dos mistérios da alma humana." Esse seu livro, diz ele, " foi-me  uma ressurreição".

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