20 Apr 2024

Publicado em TITO COSTA
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Rubem Alves é um escritor mineiro que morou em Campinas, onde faleceu e foi sepultado. Escreveu vários livros sobre sua vida, no tempo em que morou em cidades mineiras, mas o mais interessante é o que contém suas memórias, "O velho que acordou menino", um contador de estórias, que as descreve desde os tempos de menino até a adolescência e sua  idade adulta. Ele mesmo escreve que é um contador de estórias. Nesse livro estão reunidas passagens de sua vida, suas experiências, sua vivência como escritor e memorialista.
Nesse texto "Bicho de pé" ele conta que "todo menino tinha bicho-de-pé, eu tive muitos. Ter um bicho-de pé era uma felicidade. Como  a maioria dos meus leitores nem tenha tido a felicidade de ter um bicho de pé no dedo do pé e nem mesmo tenha ouvido falar desse minúsculo animal, trato de dar as informações devidas". Diz ele que "se trata  de uma espécie de pulga que tem especial predileção pelos dedos dos pés. Esse gosto é específico das fêmeas que, penetrando sobre a pele dos humanos, ali se põem a botar uma enorme quantidade de ovos minúsculos que formam um bolha transparente como se fosse de plástico, do tamanho de uma pimenta-do-reino. Essa bolha recebe vulgarmente o nome de "batata"."
Prossegue o autor na descrição dessa batata.  "A extração de uma batata pequena requer uma habilidade proto cirúrgica ou seja, a manipulação de uma agulha de costura cortando a pele circularmente à volta da batata até que, completando-se a operação se possa cuidadosamente proceder a conclusão da cirurgia. Sendo bem sucedida a operação puxava-se a batata que saia redonda e inteira, sendo exibida triunfalmente como um troféu, em seu lugar ficando uma cratera, que tem uma capacidade enorme de produzir prazer sob a forma de coceira. Coceira é uma estranha dor que dá prazer."  Diz ele que  "a verdade obriga-me a uma informação desagradável: o bicho de pé, para existir, precisa de sujeira. É nos chiqueiros que ele engorda. Há prazeres que necessitam de ambiente suíno para existir."
O bicho de pé, juntamente com as pulgas, eram partes normais da vida, conviviam com os humanos. De noite as pulgas faziam cócegas andando sobre a pele a procura de um lugar propicio a sua mordida hematofoga. Mas, depois vieram os inseticidas e elas se foram.  Hoje sobrevivem em lugares distantes. São animais em perigo de serem extintos. Eu posso testemunhar que tive várias vezes o tal bicho de pé principalmente quando andava descalço, nos meus tempos de menino. Quando cresci, da adolescência em diante nunca mais tive bicho de pé. Mas ele dava uma coceira gostosa no pé, ao ponto de sangrar em razão  dos esfregões na cama à noite antes de dormir.
Assim diante das várias estórias gostosas de Rubem Alves, descritas nesse livro "O velho que acordou menino" destaco esta do bicho de pé, mas me delicio sempre com suas narrativas verdadeiras e nostálgicas. Recomendo.

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