Jornais têm divulgado noticias as mais diversas sobre os últimos dias de Lula na presidência da República. Nesses oito anos de mandato ele teria recebido mais de 600 mil cartas dos mais diversos teores e assuntos, nem sempre discretos. Alguns até ousados demais pelos temas abordados.  Essas informações sobre cartas a autoridades lembraram-me curiosa história que me contou o Raimundo Cunha Leite quando prefeito de São Caetano. Dizia-me  que certa manhã apareceu em seu gabinete uma aflita senhora para falar com ele. Não adiantou o oficial de gabinete dizer a ela da impossibilidade do atendimento, sem marcação prévia, pois o prefeito estava em reunião que demoraria toda aquela manhã e, à tarde, sua agenda estava toda tomada.  A mulher não desistia. Ficaria ali sentada esperando o tempo que fosse preciso para falar com ele.  Afinal, o oficial de gabinete acabou dando um jeitinho e a moça falou com Raimundo. E, para espanto deste, o assunto era o seguinte: a mulher havia encontrado a foto de uma moça no bolso do paletó do marido e queria saber do prefeito que providência devia tomar urgentemente em relação ao fato. Vai falar com o padre da sua igreja, sugeriu ele. Não, o padre não entende de questões entre marido e mulher, disse a raivosa senhora. Acrescenta o prefeito já meio impaciente, procure um pai de santo para um despacho. Deus me livre, falou ela. Então para ver-se livre da intrusa, saiu-se com esta o alcaide: diga ao seu marido que venha até aqui pois o prefeito precisa falar com ele. A moça retirou-se, nunca mais voltou, nem o marido veio atender ao chamado oficial.

As cartas recebidas pelo Lula devem conter problemas conjugais e pedidos de toda ordem, além de agradecimentos e agora de despedida. Estão cuidadosamente catalogadas, foram todas respondidas por assessores e ficarão arquivadas para integrar os arquivos do Instituto Lula, cuja criação foi já anunciada por ele. E assim se alimenta a auto-estima do nosso presidente, que soma o alto índice de sua popularidade à idéia de sacralidade, que lhe é muito cara à vaidade pessoal.

Tito Costa é advogado, ex-prefeito de São Bernardo do Campo e ex- deputado federal constituinte de 1988. E-mail: O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo.