19 Apr 2024


O canto triste da Verônica nos passos da Paixão

Publicado em TITO COSTA
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Ontem, Sexta-feira da Paixão.  Nas procissões do Senhor Morto, comparece a Verônica com seu canto triste a relembrar os sofrimentos de Jesus em sua caminhada para o Calvário. Nas ruas da cidade de Jerusalém há marcas para assinalar o roteiro seguido por Jesus na sua marcha para o Calvário. E por aqui, nas celebrações da Semana Santa, nos diversos locais  por onde passa o cortejo, a Verônica do alto de uma cadeira, ou de um caixote qualquer, desenrolando um pano onde está reproduzida a face sangrenta do Senhor, entoa este cântico:  “O´ vós que passais pelos caminhos, olhai e vede se existe dor semelhante à minha dor”. Nos meus tempos de menino, em Torrinha, minha mãe me levava a essa procissão onde a Verônica, sempre uma pessoa nossa conhecida, cantava a sua dor em latim. Era um latim macarrônico que ninguém entendia (mesmo se macarrônico não fosse, não era mesmo para entender), mas a gente se emocionava com a tristeza posta no tom de sua voz e com o sudário que ela ia desenrolando, lentamente, na medida em que entoava o seu lamento. Havia todo um clima de respeitsa emoção. Segundo a tradição católica o Sudário é um lenço de linho no qual estão impressos os traços sangrentos do rosto de Cristo. A palavra sudário vem do latim sudorem que quer dizer suor, pois a face divina estaria coberta de sangue misturado com suor.
Há um texto acadêmico interessante sobre o tema. O padre José Geraldo de Souza, salesiano, com doutorado em Roma pelo Instituto Pontifício de Música Sacra, pesquisador de nosso folclore, produziu curioso estudo sob o título: “O Plangente Canto da Verônica no Vale do Paraíba”.  O estudo mostra os vários aspectos dessa tradição nas procissões de sexta-feira da Paixão, em diversas cidades da região do Vale. Detalhando o cântico, analisando a Verônica e, sobretudo lembrando aspectos do Sudário cujas reproduções têm sido feitas, ao longo dos tempos, por artistas famosos, diz o autor que podem ser admiradas em igrejas e museus e, claro, em reproduções singelas, nas toalhas usadas nas nossas procissões por este Brasil de meu Deus. Referido estudo está inserido numa publicação especial de revista editada pela Sociedade Brasileira de Musicologia (São Paulo-1998). Não há qualquer indicação sobre o endereço dessa Sociedade, nem da revista, nem mesmo informação detalhada sobre o autor desse curioso trabalho. Nosso poeta, o paulistano Oswald de Andrade, da Semana de Arte de 1922, fixou a cena num poema denominado Procissão do Enterro com estes versos: “A Verônica estende os braços /e canta /o pálio parou/ Todos escutam/ A voz na noite/ Cheia de ladeiras acesas”.  Ninguém como os poetas para fixar com poucas palavras a beleza ou a tristeza de um sentimento. Principalmente, para os cristãos, na semana da Paixão.

Tito Costa é advogado, ex-prefeito de São Bernardo do Campo e ex- deputado federal constituinte de 1988. E-mail: O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo.

Última modificação em Quarta, 20 Abril 2011 09:26
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