20 Apr 2024


Escombros e mortes no Rio. E Deus, onde estava?

Publicado em TITO COSTA
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11/02/12

Se não me engano foi o atual papa alemão Bento XVI quem perguntou onde estava Deus, por ocasião do massacre dos judeus por Hitler, no chamado Holocausto (que quer dizer sacrifício, imolação). Agora, diante da tragédia que se abateu sobre a cidade do Rio de Janeiro, no dia 25 de janeiro deste ano de 2012, com o desabamento de três prédios, no coração da Cidade Maravilhosa, na  antiga Cinelândia, ouviu-se a invocação de Deus  pelos familiares das vítimas e por pessoas que conseguiram sair ilesas.  Algumas agradecendo o dedo de Deus para salvá-las; outras, esperando a Sua ajuda para os desaparecidos. Um desses agradecidos do auxilio divino foi Marcel Lima, de 34 anos que não esteve no prédio, nesse dia, onde freqüentava o curso de tecnologia da informação, porque teve uma reunião de trabalho fora. Ao chegar à sua casa, sabedor da catástrofe, vendo sua filha de um ano e a mulher grávida, disse aos jornais: “Nessa hora a gente vê que Deus existe” (Folha de S. Paulo, 27/01/2012).  Mas como? Deus existiu só para ele e não para os que morreram soterrados ou estão desaparecidos sob os escombros?  O cineasta espanhol Buñuel filmou a história de dois peregrinos rumo a Santiago de Compostela, na Galicia, Espanha, lugar de romaria e orações conhecido no mundo inteiro. Um peregrino era religioso, o outro ateu, que acompanhava o amigo. Caminhavam quando começou a escurecer e a desabar uma forte chuva com raios e trovões, obrigando-os a se recolherem num casebre à beira da estrada. O ateu, tomado de fúria, sai à chuva e, gritando aos céus explode: “Deus, se você existe, me mate agora com um raio”. Ouvindo a imprecação, o amigo crente lhe diz: - Você pensa que Deus está à sua disposição?
A lição serve para a tragédia do Rio e para todas as tragédias que ocorrem no mundo, especialmente os acidentes nas estradas onde morrem alguns e outros se salvam. Se Deus é onipotente, onipresente e, sobretudo, justo, por que haverá Ele de salvar uns poucos e deixar de lado outros?  Segundo a versão de Buñuel, Ele não pode estar à disposição de alguns em prejuízo de outros. E aí entra a fala atribuída ao papa Bento XVI: onde estava Deus na hora em que os prédios ruíram na Cinelândia? Certo mesmo, é que só nós somos os responsáveis pelos nossos atos e por nossa presença no lugar errado, na hora errada, e vice-versa. Quando o ho-mem contraria as leis da natureza, as leis físicas que regem nossa movimentação no mundo, está se sujeitando, conscientemente ou não, às conseqüências da desobediência. E tem ainda outro elemento nessa história: o imprevisto, o imprevisível, o acaso. Ou a sorte, que independe de nossa vontade ou de nossa participação. É prudente deixar Deus de fora, sob pena de aceitarmos a sua parcialidade, contrariamente à sua onipotência e espírito de justiça.
P.S. – Estava escrito este texto quando ocorreu o desabamento parcial do prédio na esquina da Av. Indico em São Bernardo. O que escrevi vale também para essa triste situação com mortes de inocentes e sorte de alguns que correram em tempo de se salvarem.

Tito Costa é advogado, ex-prefeito de São Bernardo do Campo e ex- deputado federal constituinte de 1988. E-mail: O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo.

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