No dizer dos italianos, “carnevale, ogni scherzo vale”, ou seja, no carnaval, qualquer brincadeira vale. Vale tudo, mesmo. Como diz antiga marchinha carnavalesca, cantada por Aracy de Almeida  (quem se lembra?): “no primeiro dia de carnaval, no segundo dia de carnaval e no terceiro dia de carnaval podemos fazer tudo porque nada faz mal”. Como era bom o tempo das marchinhas e dos sambas de carnaval:  Aurora, a Jardineira, Touradas em Madrí, Máscara Negra, Me dá um dinheiro aí – e tantas outras que fizeram a alegria dos foliões. Agora,  são as Escolas de Samba que dominam os festejos de Momo, com seu luxo e com seus sambas-enredo cantados numa nota só, muito sem graça, sem a vibração de outros tempos. E depois, aquela disputa frenética pelo primeiro lugar, tudo pelo turismo.
A Igreja católica não gosta do carnaval. Agora está mais tolerante, mas custou. Um padre espanhol em Torrinha, muito ranzinza, nas décadas de 40, 50, 60, ameaçava seus fieis que fossem aos bailes de carnaval: - o demônio, dizia, está na porta espreitando para levar os foliões  para o fogo eterno!  Verdade. Era assim mesmo que o vigário falava. E os fieis tremiam na base. Nem todos, porém. Havia os renitentes, os pecadores assumidos, como os há em todos os tempos.
Afinal, a festa do Carnaval, ou o Entrudo, nasceu dos calendários religiosos, tanto no Egito, como na Grécia, ou na antiga Roma. Nos primórdios do cristianismo a Igreja marcava a festa para os dias que precediam a quaresma.  Entrudo vem do latim intróito, ou seja, o começo, o início. E assim tem sido até hoje: ao período das folias seguem-se os quarenta dias de religiosa penitência, abstenções e orações. Será? O mundo de hoje nem se dá conta dessas práticas antigas. Um velho amigo muito religioso casou-se durante a quaresma, mas teve autorização do bispo para tanto. Nos meus tempos de moço nem bailes havia durante a quaresma. Isto tudo é passado. O mundo mudou, os costumes mudaram. Ficam apenas as lembranças de tempos que se foram. Ou, simplesmente, uma inviável saudade de velhos tempos e velhos carnavais.

Tito Costa é advogado, ex-prefeito de São Bernardo do Campo e ex- deputado federal constituinte de 1988. E-mail: O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo.