18 Apr 2024

Publicado em TITO COSTA
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07/04/2012

Com o respeito devido reconto aqui curiosa estória que o professor José de Souza Martins relata em sua coluna para um jornal de São Paulo. Um certo alfaiate participando em teatro amador como ator principal numa peça de Semana Santa sobre o drama da paixão, fazia o papel do Cristo. Acontece que a ilustre figura de ator, muito magro e de corpo especial para o papel, era um fumante inveterado. Numa das apresentações do drama já estava ele pregado à cruz, só de fralda, para representar a crucificação. Continuava com o cigarro na boca, fumando distraído. Ao abrir-se a cortina para o espetáculo, foi advertido pelo bom ladrão ao seu lado, e tratou de cuspir o cigarro que, em vez de cair no chão, caiu-lhe no cós da fralda indo parar no púbis entre o pelos e a pele. Nos primeiros minutos daquele ato final, com a morte do Cristo na cruz, ao ser lancetado pelo impiedoso soldado romano começou a contorcer-se, tentando com o movimento de uma perna sobre a outra, livrar-se da brasa do cigarro que o queimava. No seu desespero, gritou as tradicionais palavras do script: “Pai, em tuas mãos entrego o meu espírito”. Pendeu a cabeça, banhado em suor, as lágrimas escorrendo-lhe pelo rosto, a multidão aplaudindo, entusiásticamente, pelo realismo de seu desempenho. Houve choros, entre as palmas, diante de tanto sofrimento que ninguém suspeitava fosse provocado pela brasa do cigarro. E conclui o narrador: Nunca, jamais, em tempo algum, alguém desempenhara com tanta perfeição o papel do crucificado.
Na mesma linha de situação inusitada, outra Paixão de Cristo, num circo em Torrinha, mostrou um quadro tão risível quanto o acima lembrado. Entre os convocados da cidade para figurantes como soldados romanos estava o italianão Dante Milani, muito popular, desbocado, bestemiador reconhecido por todos. Ao prender o Cristo para levá-lo à cruz ele grita: “Esteje preso”, “porco Dio”!  Claro que a platéia veio abaixo com gargalhadas e aplausos diante da firmeza do guardião romano, com sua autoridade e sua blasfêmia costumeira, tão conhecida na cidade.
São acontecimentos verdadeiros, com a graça própria do espírito brincalhão dos brasileiros, sempre com o respeito devido ao drama da paixão celebrado a cada ano em circos mambembes pelos desvãos deste Brasil católico e ingenuamente supersticioso.

Tito Costa é advogado, ex-prefeito de São Bernardo do Campo e ex- deputado federal constituinte de 1988. E-mail: O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo.

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