20 Apr 2024


Homenagens inconvenientes e arrependidas

Publicado em TITO COSTA
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16/06/2012

Noticia vinda de Brasilia informa que no Senado  está tramitando um projeto para retirar o nome de Filinto Müller de uma ala naquela casa que além, do nome, ostenta o busto em bronze daquele falecido parlamentar. Em troca, aquela ala passaria a ter o nome de Luiz Carlos Prestes, conhecido líder comunista. Argumentam os que propõem a troca que Filinto Müller foi chefe da policia no governo  Getúlio Vargas, responsável pela deportação da judia Olga Benário, mulher de Prestes, militante comunista, para um campo de concentração nazista na Alemanha, onde foi executada em 1942, em plena segunda guerra mundial (1939-1945). Salientam os proponentes da troca que Filinto comandara a prisão e prática da tortura para os presos políticos de então, inimigos do governo Vargas.
Com o argumento do empenho em se esclarecer fatos obscuros "que mancham  a história da democracia no país", a Comissão de Educação do Senado aprovou a proposta e aguarda a aprovação da sua Mesa Diretora para a consumação da substituição de um nome pelo outro.
Há evidente contradição nessa troca. Se é verdade que se cuidaria de esclarecer fatos que "mancham a história da democracia no Brasil" o nome de Luiz Carlos Prestes seria o menos indicado. Nunca se soube que ele fosse um democrata. Ao contrário,  bravo e combativo lider comunista,  viveu anos na União Soviética, declarando aos jornais da época, para surpresa geral, que se houvesse uma guerra entre o Brasil e a Rússia, ficaria ao lado desta. Sabendo-se, como se sabe até hoje que Stalin comandou o país soviético com mão de ferro, prendendo e  executando mais de vinte milhões de inimigos do seu regime,  será até ofensivo à verdadeira Democracia aceitar que Prestes, apoiando o ditador soviético, tenha sido um democrata. Nem Filinto nem Prestes poderão, frente à História, ostentar a condição de democratas. Foram eles, igualmente, fruto de uma geração de tendências obscurantistas, um do lado nazista, outro do lado comunista, ambos os regimes inimigos da democracia,  adeptos da força e da intolerância com os contrários, exatamente o oposto da democracia que aceita e estimula o debate aberto de ideias e o respeito às opiniões divergentes.
Esse fato me leva ao passado em situação que se deu comigo quando prefeito de São Bernardo no que diz com homenagem inconveniente.  Quando assinei decreto de doação de área, no Riacho Grande, para a  Sede Náutica  da Associação dos Funcionários Públicos Municipais, a diretoria dessa entidade, na ocasião, sugeriu colocar meu nome na fachada.  Rejeitei, de pronto. Motivo: um prefeito que viesse depois e não simpatizasse com a homenagem a seu antecessor poderia determinar a mudança para outro nome qualquer. Seria politicamente desagradável para não dizer que se mostraria agressivamente ofensivo.  E tudo isso, sem nada a ver com democracia, ideologias  ou regimes de exceção, embora  vivêssemos  ainda atolados nas amarras do golpe militar de 1964.

Tito Costa é advogado, ex-prefeito de São Bernardo do Campo e ex- deputado federal constituinte de 1988. E-mail: O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo.

Última modificação em Quinta, 21 Junho 2012 12:01
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