20 Apr 2024

Publicado em TITO COSTA
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21/7/2012

O livro Esta Nação Corrompida, do escritor norte-americano Fred J. Cook, publicado no Brasil pela Editora Civilização Brasileira em 1967, é uma contundente narrativa sobre a corrupção nos Estados Unidos, especialmente em altos escalões dos governos e nas empresas que contratam com o poder público de lá. O livro começa com um curioso caso real. Um faxineiro negro de nome Douglas Wiliam Johnson, 50 anos, morador em Los Angeles, saiu com sua mulher de 38 anos, numa manhã de março, em busca de um emprego de peão num edifício de apartamentos ainda em construção. De volta para casa, sem conseguir o serviço, depara na estrada, à frente de sua caminhonete, com um grande saco de lona. Parou, apanhou o volume e atirou-o para a parte traseira da sua caminhonete. A mulher, mais curiosa, estendeu o braço, pegou o saco, abriu-o e, espanto, havia nele pacotes de dinheiro, ou seja, apenas duzentos e quarenta mil dólares.  Ele parou o carro, assustado, pouco acreditando no que ambos viam. E aí começou o drama. Tremendo dos pés à cabeça,  enfrentava a dúvida cruel: devolver a fortuna ou ficar com ela, resolvendo sua situação de pobre e desempregado? Procurou a policia pois, segundo ali declarou, não poderia mais olhar para seus filhos se ficasse com o que não lhe pertencia. Ficou sabendo, então, que o saco caíra de um caminhão blindado que transportava dinheiro de um banco para o Federal Reserve Bank (o Banco Central  americano). Recebeu como recompensa 10 mil dólares. A divulgação do fato pela imprensa tornou sua vida um inferno, pois passou a receber toda a sorte de insultos e provocações, por cartas e telefone, chamando-o de burro, imbecil, por ter devolvido o dinheiro. Seus filhos na escola eram ridicularizados pelo fato de seu pai, um negro pobretão, não ter ficado com a grana.
Fato semelhante ocorreu em São Paulo, dias atrás, embora em proporção menor: dois moradores de rua encontraram 20 mil reais jogados no chão de uma praça, procuraram a policia, e devolveram a fortuna aos seus donos dois sócios de um restaurante de  onde o dinheiro fora roubado.
Rejaniel, maranhense, e sua companheira a paranaense Sandra, heróis dessa demonstração de honestidade e dignidade que não se vê em personalidades de escalões tidos como superiores, são agora alvos de opiniões conflitantes. Ao mesmo tempo debate-se sobre seu gesto: foram bobos em não ficar com  o  dinheiro? Fizeram a devolução só para se exibirem como heróis de ocasião ? Se foi achado e não roubado por eles, por que devolver?
Todas essas conjecturas se revelam apropriadas para uma situação como a do Brasil atualmente: há tanta corrupção solta por aí que um gesto de tal grandeza partido de humildes pobretões moradores de rua não é assimilável pela população, em geral. É que há uma descrença generalizada em relação a esquecidos valores, como por exemplo vergonha na cara. Triste sinal dos tempos. Mas o gesto deles foi exemplar como lição a todos nós.

Tito Costa é advogado, ex-prefeito de São Bernardo do Campo e ex- deputado federal constituinte de 1988. E-mail: O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo.

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