25 Apr 2024

Publicado em TITO COSTA
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11/08/2012

São Bernardo. Janeiro de 1983. Estou participando no Teatro Cacilda Becker da posse de Aron Galante, que me sucedeu no cargo de prefeito. Numa das primeiras filas os seis novos vereadores do Partido dos Trabalhadores que,  pela primeira vez, elegia representantes na Câmara. Estavam de cara fechada, braços cruzados, não aplaudiam qualquer dos atos que se praticavam nessa sessão solene de posse de eleitos. Consideravam-se diferentes de quaisquer outros, arautos da moralidade, inaugurando o mandato num partido diferente que vinha, segundo os alardes da época, para mudar os costumes políticos e extirpar da vida pública o mal da corrupção.
Os tempos passaram, o PT abastardou-se e nada mais se vê daquele tão apregoado moralismo na vida pública. Os fatos estão aí escancarados só não os vendo quem não quer enxergar. O mensalão é o exemplo mais recente e, por ora, o mais eloquente. Para alguns analistas políticos esse lamentável episódio de roubalheira dos cofres públicos divide a história do PT em "antes" e "depois" do mensalão. Antes eram os tempos da bandeira ética, nada de coligação com outros partidos, o que poderia manchar os propósitos de pureza e moralização contidos em seus estatutos. Depois, é a sua caminhada no exercício do poder, especialmente nos altos escalões do governo central federal, conspurgando-se a legenda e seus correligionários mandatários nos postos mais elevados - e nos menos elevados, também, - das administrações públicas exercidas por petistas. Desnecessário  citar exemplos concretos. O historiador Lincoln Secco, professor da USP, autor do livro A História do PT, refere-se à divisão da trajetória da sigla em antes e depois do mensalão que "derrubou o discurso pela ética na política e retirou de cena os principais quadros dirigentes históricos do partido". Diz mais, que "a direção do PT literalmente se escondeu e poucos dirigentes tiveram coragem de aparecer em público para defender o partido". O prof. Roberto Romano da cadeira de Ética e Filosofia da Unicamp admite que esse é um "episódio crucial na vida do partido; ele é o coroamento de um processo interno que se desenhava muito antes" (ver o jornal O Estado de S. Paulo, ed. de 05/08/12, pág. A-8). É sabido de todos que o próprio presidente Lula, na ocasião, veio a público pedir desculpas ao povo brasileiro pelo episódio, dizendo-se ele mesmo traído por companheiros. Não disse quais eram. Agora, no entanto, no calor do julgamento do caso pelo Supremo Tribunal, os petistas negam a existência do rumoroso escândalo, alardeando em declarações à mídia a "inocência" dos autores da prática dos crimes denunciados pela Procuradoria Geral da República. Arrimam-se na alegada "falta de provas". Assim vai se diluindo ao longo do tempo a proposta tão alardeada pelo partido de inovação de costumes e de comportamentos na vida política do Brasil. Uma enganação que não resistiu sequer uma década na vida do PT que se esqueceu do trabalhador aninhando-se no conforto do poder  e na disponibilidade da fartura dos cofres públicos.

Tito Costa é advogado, ex-prefeito de São Bernardo do Campo e ex- deputado federal constituinte de 1988. E-mail: O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo.

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