25 Apr 2024


Para o bem da humanidade. Sacrifícios em vão

Publicado em TITO COSTA
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25/08/12

Minha filha me questiona: qual o balanço de meus quase noventa anos de vida e de tantas décadas de dedicação profissional na advocacia. Quanto a esta, decepção e desencanto não tanto pelo Direito em si, mas como ele vem sendo tratado ao longo dos tempos pela discutível justiça dos homens. E os anos vividos talvez comportem um balanço em parte positivo, mas ciente da inutilidade de qualquer sacrifício para o bem da humanidade, seja qual for o propósito. De que valeram tantos séculos de guerras,  perseguições, torturas, mortes, incompreensões, injustiças, sobre idealistas que se dedicaram a concorrer para o bem dos homens e das coisas. Jazem no esquecimento. E seu sacrifício se não foi em vão, passa ao largo de qualquer registro. Pessimista, pergunta a filha?  Nem tanto, digo-lhe. Apenas a constatação das ingratidões, da indiferença  da vida e das pessoas, além do natural esquecimento que o passar do tempo impõe, inapelável, a fatos e pessoas. Principalmente agora com a era da informática, a velocidade das informações, a insensatez das deformações dos costumes. O gaúcho Jayme Caetano Braun com a sua fina sensibilidade de poeta fala do tempo que não passa, passamos nós, isso sim. Diz ele que "bombear a barra amarela (o indefectivel chimarrão)/do dia quando se aclara/Sentir que a mente dispara/Nos rumos que o tempo traça/Eu me tapo de fumaça/E olho o tempo veterano/Entra ano e passa ano/Ele fica... a gente passa".
Num texto de 1964 para o jornal O Estado de S. Paulo o saudoso Paulo Francis nos lembra a propósito do tema desta crônica: "O chato é que Mary Anne Evans (George Eliot) escreveu": "A maioria da humanidade descansa em tumbas invisitadas e deixou nenhum traço de sua presença, exceto talvez um arranhão vulgar numa pedra".
O  falecido presidente Castelo Branco, o primeiro da série dos milicos no poder, repetia que o cemitério está cheio de homens insubstituíveis.
Para mero consolo nosso invoco os versos de Cecília Meirelles  no seu Epigrama nº 1: "Pousa sobre esses espetáculos infatigáveis/uma sonora e silenciosa canção:/flor dos espírito, desinteressada e efêmera./Por ela, os homens te conhecerão:/por ela os tempos  versáteis saberão/que o mundo ficou mais belo, ainda que inutilmente,/quando por ele andou teu coração". Leitor: favor prestar atenção ao advérbio inutilmente, no texto transcrito.

Tito Costa é advogado, ex-prefeito de São Bernardo do Campo e ex- deputado federal constituinte de 1988. E-mail: O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo.

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