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Melhor idade. Melhor?

Publicado em TITO COSTA
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08/12/12

Estou de inteiro acordo com Fernanda Montenegro, a grande atriz brasileira de 83 anos, em plena atividade intelectual, preparando-se para novas interpretações no palco e no cinema, mas realista: "Não me diga que ter de 80 para 90 anos é a melhor idade. É demagogia. Essa coisa de melhor idade é para vender pacote de turismo para velho". Ela diz isso em entrevista recente para um jornal paulista e acrescenta: "O mais difícil é saber que você está na fase definitivamente conclusiva da vida. É melhor encarar".
Tal qual ela, posso dizer que estou eu nessa fase infelizmente conclusiva da vida. Viúvo, morando só, tenho ainda o carinho dos filhos, cada qual com suas famílias, seus próprios problemas, nem sempre disponíveis para uma prosa ou um almoço, Como Fernanda, vejo e sinto minha geração morrer: amigos, parentes queridos, colegas da nossa turma de 1950 da Velha Academia de Direito do Largo de São Francisco que, ou  se foram (a maioria já morreu), ou os oitentões sobreviventes, vitimas de achaques, doenças pessoais ou de familiares, ou de amigos próximos. E assim, a gente vai ficando cada dia mais só. Mas, consolo - não sou exceção -, é da vida, é de todos nós, queiramos ou não. Ficar velho é resultado de não ter morrido jovem, mas as consequências de muito viver estão aí à nossa frente, fatais, irreversíveis, sem possibilidade de volta atrás. Razão tem Millor Fernandes, o humorista já falecido: "Viver é como desenhar sem borracha". Desenhou, fez o que fez na vida e da vida, e não tem retorno, não dá para apagar ou redesenhar.
De meu lado, lá se vai o desabafo: a saúde, o trabalho, as leituras, os projetos, tudo funcionando regularmente para preencher horas e dias. Ocorrem, vezes muitas, momentos de uma espécie de solidão, um aperto na alma, como se tudo não valesse mais nada. E uma saudade sufocante da companheira, de um filho e de amigos que se foram, de horas e dias e fatos que enfeitaram a vida e se esvaíram mergulhados nas brumas do tempo. Mas, há o consolo dos amanhãs, (quem sabe, poucos), de novos dias, novos recomeços, como bradou a heroína de O Vento Levou, Scarlet O´Hara, numa cena inesquecível desse grande clássico do cinema.
E o mais constrangedor é assistir, impotente, ao desmonte de valores que fizeram a alegria de nossos tempos e de nossas vivências, hoje relegados como que definitivamente. Que valores? O respeito, as atenções, a educação no trato diário, as boas maneiras de comportamento em casa ou na rua, tudo se diluindo nas buscas apressadas de outros valores à venda, disponíveis para o desfrute  de momentos de ilusão passageira. O resto, é ir registrando as baixas, os vazios, os desapontamentos, desilusões muitas (quem não as tem ?), na esperança de que nos aceitem e nos tolerem, com nossas implicâncias ou rabugices, próprias dos que se colocam, inapelavelmente, em posição de espera.

Tito Costa é advogado, ex-prefeito de São Bernardo do Campo e ex- deputado federal constituinte de 1988. E-mail: O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo.

Última modificação em Sexta, 07 Dezembro 2012 14:27
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