20 Apr 2024

Publicado em TITO COSTA
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29/03/14

Na minha cidade havia um homem conhecido como “mão fechada”, ou seja, pouco dado a gastos ou generosidades. No popular, um “pão duro”.  Sobretudo, um rematado egoísta que atendia pelo nome de Chico Maria.  Nas rodas de conversas com amigos, no Largo da Matriz, quando falavam de seca, falta de chuva, escassez de alimentos etc. e tal, lá vinha ele com seu conhecido bordão: pra mim eu tenho!  Não lhe importava o problema dos outros, de todos, diante de qualquer crise que se avizinhasse,  de qualquer ameaça  de restrições ou sacrifícios. Pra mim eu tenho, e isso lhe bastava.  Os outros que se cuidassem.
Tais lembranças me ocorrem com o problema atual que a todos preocupa.  Bem, não a todos.  A escassez de água e o horizonte negro que nos ameaça por sua falta nas grandes cidades, ou pela necessidade de racioná-la, ou disciplinar seu uso diário. É só, e antes de tudo, questão de educação e, se  quiserem, de um mínimo de solidariedade humana, mercadoria em falta no mercado dos homens.
As chuvas estiveram em recesso nestes últimos verões, São Pedro pouco se lixando por angústias terrenas. Reservatórios  vazios, pouca  ou nenhuma chuva por aqui, mas farta, exagerada e maldosa nas enchentes lá  no Norte e Nordeste, especialmente no Acre. Em  Porto Velho, capital de Rondônia,  as águas do rio Madeira subiram a mais de 19 metros do nivel normal. Miséria, desolação,  gente sem casa e sem comida, sem tudo, sabe Deus até quando, em face da dificuldade (ou incapacidade) dos governos de enfrentar a natureza, prevenindo desgraças.
Prefeito,  ainda, certa vez deparei com uma mulher, num bairro  por onde eu passava, varrendo a calçada com a água farta de generosa mangueira.  Parei (ela nem sabia quem  era eu) e disse:  a senhora não sabe que está desperdiçado água ?  Por que não varrer a calçada com a vassoura ?  Respondeu: eu pago a água e uso  o quanto eu quero. Que dizer a uma anta como essa ?   Em resumo: só mesmo a educação para essa e outras distorções da mentalidade comum brasileira. Além disso, os governantes mais atentos, prevenidos, politicamente desviados do voto, postura de estadista, de governo voltado para futuros incertos.  Alerta do professor da Poli-USP  Benedito Braga:  “No Nordeste, todo político consi-dera a questão da água. No Sudeste só se discutem inundações”. Mas agora as coisas mudam e se agravam.  Planejamento e mais atenção com a natureza,  pois ela não se defende, mas se vinga.
PS – Adianta alguma coisa isso que escrevi acima ? Pelo menos, fica o registro. No meu tempo fiz o que pude, a Paulicéia, p.ex., que o diga. Se é que alguém se lembra.

Tito Costa é advogado, ex-prefeito de São Bernardo do Campo e ex-deputado federal constituinte de 1988. Email: O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo.

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