03/05/14

O encarte do The New York Times publicado pela Folha de S. Paulo, em sua edição de 22 de abril passado, traz intrigante matéria sobre desperdícios em obras do governo federal inteiramente abandonadas depois de bilhões de dólares em investimentos para sua realização, ainda inacabada. O texto de autoria de Simon Romero, direto de Paulistana, no Piaui, destaca: “O Brasil injetou bilhões de dólares na construção de  uma ferrovia que atravessa terras áridas, mas o projeto totalmente atrasado hoje atrai ladrões de metal. Novos prédios curvilíneos projetados pelo famoso arquiteto Oscar Niemeyer foram abandonados logo após a construção” (o texto do jornal é ilustrado por fotos impressionantes de um arcabouço perdido num deserto de areia escura). Prossegue Romero: “Alguns economistas dizem que essas obras revelam uma burocracia paralisante, alocação irresponsável de recursos e bastiões de corrupção. Estamos acordando para a realidade de que recursos imensos são desperdiçados em projetos extravagantes, ao passo que nossas escolas públicas ainda são péssimas e falta saneamento básico em nossas ruas”. Tem mais: “A lista crescente de projetos de desenvolvimento problemático inclui uma rede de canais de concreto de US$3,4 bilhões no sertão nordestino assolado pela seca, que deveria ter sido concluída em 2010”.
Não há espaço neste canto de página para transcrever dados preocupantes para nós que nem temos como reagir a tantos abusos e descasos com dinheiro público. Sobre a tão falada Transnordestina, ferrovia iniciada em 2006 no Nordeste, dificuldades criadas por Ongs e entidades defensoras  do meio-ambiente determinaram a revisão dos projetos e, claro, a suspensão das obras com ladrões roubando metal e vários materiais nos canteiros abandonados. Enfim, os subtítulos dessa matéria e da tragédia que ela estampa: “Megaprojetos acabam definhando no Brasil”. E “Brasil Grandioso se desfaz”. Pode ?
E assim, nossa mania de grandeza, de “País rico é país sem pobreza” (um slogan infeliz e enganador), esquecidos os protestos de rua do mês de junho do ano passado, vamos caminhando na indigência de um país rico e um povo desatento à busca de um melhor destino.

Tito Costa é advogado, ex-prefeito de São Bernardo do Campo e ex-deputado federal constituinte de 1988. E-mail: O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo.