O poeta Carlos Drummond de Andrade no poema Elegia do Rei de Sião, diz: “Pobre rei de Sião que morreu de desgosto por não ter um filho varão. Pobre rei de Bangkok pequenino, bonito, decorativo, que morreu especialmente para nos comover”.
A foto que percorreu o mundo mostrando o menino sírio, Aylan Kurdi, de três anos, morto no naufrágio de um bote superlotado em que fugia dos horrores da guerra com seus pais e um irmão de cinco anos, tocou a sensibilidade de todos. Foi comovente ver seu corpinho de bruços, na areia, o bracinho estendido como se dormisse, naquela praia deserta, trazido pelas ondas do mar. O rostinho repousava, na inércia que o libertava para sempre dos horrores da guerra.  E, repetindo o poeta, ele “morreu especialmente para nos comover”. Sua mãe e o irmão de cinco anos, passageiros do barco naufragado, também morreram. O pai sobreviveu e, em prantos, desesperado, levou os corpos queridos para sepultamento em Kobani, cidade síria na fronteira com a Turquia, devastada pelo terrorismo do Estado Islâmico. Em declarações à im-prensa turca ele revelou que pagara dois mil euros, equivalentes a mais de oito mil reais para chegar à Grécia, naquele bote, com mulher e filhos. Intermediários criminosos e aproveitadores buscam lucros no desespero de tantas famílias que procuram abrigo em outros países.  Eles lotam, acima de sua capacidade, precários e frágeis barcos inflados de ar, pouco se importando com o desfecho dessas viagens de morte para refugiados imigrantes.
E assim vem acontecendo com levas de milhares de imigrantes, principalmente sírios, iraquianos, eritreus, e tantos mais que buscam no continente europeu a paz de que não podem desfrutar em seus países.
No entanto, o excesso das multidões de retirantes vem provocando reações de repúdio em países do Leste europeu pela sua acolhida. Polônia, Hungria, Romênia, Letônia, entre outros, formam um bloco de resistência, fechando suas fronteiras com muros, arame farpado, policiais, impedindo a entrada desses irmãos desvalidos. E com a indiferença de um mundo em decomposição, egoísta, alheio ao drama e ao desespero de tantos infelizes.