Era o ano de 1952. Lauro Gomes era o prefeito de São Bernardo, eleito em 1951. Eu, mais Jayme Franchini e poucos outros que ainda vivem, éramos do primeiro time da administração. Franchini nas finanças, eu, o advogado da Prefeitura. Na outra ponta, a secretária Rita Zincaglia, falecida no ano passado e o indefectível Emilio Baccarat, amigo pessoal de Lauro. Havia ainda, o Mauro Corvelo e o Escobar atualizando a área fiscal e a arrecadação; o João Simonato, na sua conhecida ligeireza, e alguns outros. A cidade reduzia-se a um pequeno burgo, 40.000 habitantes, predominando os moveleiros. São Bernardo já foi a capital dos móveis, mas hoje não mais aqui são fabricados, vendem-se os importados de outras fábricas, de outras procedências.
Acho que já contei aqui uma curiosidade, entre tantas outras da gestão Lauro Gomes. Recebeu ele, certa feita, alguns empresários de São Paulo em visita para avaliar as possibilidades de investir por aqui. A Rua Marechal Deodoro era pavimentada com paralelos, duas mãos de direção, movimento escasso, comércio acanhado. Então Lauro convocou os poucos proprietários de veículos automotores da cidade para circularem pela Marechal, indo e vindo, a fim de mostrar aos visitantes, um movimento incomum. E eles se convenceram das possibilidades que o município oferecia.
Aos sábados, o Lauro saia a passear para conhecer os problemas da cidade, que não eram poucos. E nós, alguns auxiliares, com ele.
Numa estrada de terra batida, um galpão com mesas enormes e bancos ao longo de suas bordas, parávamos numa pausa para comer um franguinho feito na hora pelas mãos caprichosas de dona Santa Demarchi. E polenta acompanhando.  Era uma festa só.
Surgia aí o embrião da Rota do Frango com Polenta, uma instituição gastronômica que dura anos e foi, ainda é, uma das marcas de São Bernardo, conhecida no ABC e alhures. Depois denominada Restaurante São Judas, a casa modesta, de dona Santa chegou a ser uma das maiores de tantas outras que surgiram depois, especializadas no tal frango com polenta. A rota principal que as abriga denomina-se Avenida Maria Servidei Demarchi, nome da avó de um dos mais destacados filhos da família Demarchi, o ex-prefeito de São Bernardo Walter Demarchi.
Agora anuncia-se que o tradicional São Judas fechou suas portas que desde o longínquo ano de 1949 iniciou bem sucedida carreira.
Fala-se que a área em que se localiza vai transformar-se em grande empreendimento imobiliário. É o destino de nobres espaços urbanos destinados a enormes prédios de apartamentos e lojas entupindo nossas ruas e criando problemas de toda a ordem para a administração pública, para o trânsito e para os moradores, em geral. E a isso se dá, equivocadamente, o nome de progresso.