25 Apr 2024

Publicado em TITO COSTA
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O Santo Sudário, segundo registram os textos sagrados, é uma toalha com a qual foi enxugado o rosto de Jesus na sua dolorosa caminhada rumo ao Calvário. Ficaram nela estampadas com sangue e suor (sudorem, suor em Latim. Sudário) a face e as expressões de dor do rosto sagrado.  Trata-se de importante relíquia que hoje percorre altares e museus para a veneração dos fieis. Pois é essa toalha, em versão simbólica, que a Verônica vai desdobrando, com seu canto triste, nas procissões noturnas da sexta-feira da paixão, para lembrar aos passantes; “Ho! vós que passais por estes caminhos, olhai e vede se existe dor semelhante à minha dor”.
Vale registrar aqui as tantas procissões lá em Torrinha em que eu era levado por minha mãe nessas noites especiais da Quaresma.  Eu já podia observar, com espírito critico, minha estranheza diante da cena: A Verônica de meus tempos - ainda hoje – era uma das cantoras do coro da igreja matriz que do alto de uma cadeira, levada por um seu acompanhante, e com voz às vezes esganiçada, produzia seu canto enquanto ia desdobrando a toalha para enfatizar a origem e a extensão de sua dor. Certa vez, numa das paradas da procissão, necessárias para a exibição teatral, nas esquinas do percurso, a cadeira bambeou pelo movimento brusco da cantora e ela se foi ao chão com cadeira, sudário e tudo. Tão nervosa quanto desapontada, retomou seu canto, a voz trêmula, colocando ainda mais emoção no seu lamento. Se outros tombos ocorressem, mais autênticas teriam sido as lamúrias (mas essa é mera suposição do cronista).
Existe, entre tantos estudos sobre o Sudário e sua utilização nas procissões da sexta- feira santa, um curioso texto acadêmico do sacerdote salesiano José Geraldo de Souza sob o título “O Plangente Canto da Verônica no Vale do Paraíba” (in Revista da Sociedade Brasileira de Musicologia – São Paulo-1998).  Mostra o estudo os vários aspectos dessa tradição nas procissões da semana santa no vale paraíbano, destacando o papel do Sudário, cujas reproduções vêm sendo feitas, ao longo dos tempos, por artistas famosos.
Entre nós, poetas, pintores, escritores, valeram-se do tema. Oswald de Andrade, um dos mais ousados participantes da sempre discutida Semana de Arte de 1922, em São Paulo, no Teatro Municipal, deixou-nas esta pérola em “Procissão do Enterro”: “A Verônica estende os braços/e canta/o pálio parou/Todos escutam/A voz na noite/Cheia de ladeiras acesas”.
Eis aí Verônica, o Sudário, a poesia, a tradição marcada pela fé, nas lamúrias da Semana Santa.

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