Editorial

30 anos do Plano Real

Na segunda (1) de julho completou três décadas que o Brasil implementou o Plano Real. Trata-se de um marco na história econômica do país. Naquele julho de 1994, os brasileiros viviam uma dupla esperança, a promessa de uma nova moeda vencer o fantasma da inflação e ainda da seleção brasileira conquistar o tão sonhado tetracampeonato na Copa do Mundo de futebol.
O Real foi criado pela equipe econômica comandada pelo então ministro da Fazenda, Fernando Henrique Cardoso, e implementado por meio de medida provisória editada em 30 de junho de 1994 pelo então presiden-te Itamar Franco.
O plano tinha como objetivo estabilizar a moeda para controlar a inflação, que corroía o salário dos trabalhadores, a capacidade de consumo da população, com a moeda que vigia à época, o cruzeiro real, e ainda resistia após o fracasso de seguidos planos econômicos. Em junho de 1994, mês que antecedeu a criação do Real, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), calculado pelo IBGE, foi de 47,43%. Para se ter uma ideia do quão exorbitante era o valor, atualmente, o IPCA é de 0,46% e o acumulado nos últimos 12 meses é de 3,93%.
O Brasil vivenciou alguns períodos de alta inflação ao longo da história. Entre 1980 e 1990, o país passou pela hiperinflação. A hiperinflação brasileira chegou a acumular quase 2.000% no final da década de 1980. Em abril de 1990, a inflação acumulada chegou a 6.821%. Neste período, a instabilidade era tamanha que os preços nos mercados eram reajustados diariamente, às vezes mais de uma vez ao dia.
Os anos que antecederam o lançamento do Real tiveram vários planos econômicos que fracassaram na promessa de garantir a estabilidade dos preços. Um deles foi o Plano Cruzado, implantado pelo ex-presidente José Sarney, em 1986. Na ocasião, o governo congelou os preços. O efeito foi imediato e os brasileiros viveram um período de poucos meses de inflação baixa. Porém, devido ao controle forçado dos preços, por meio do tabelamento, produtos começaram a faltar nos mercados e, quando eram encontrados, era cobrada uma espécie de ágio dos que estivessem dispostos a pagar os bens com acréscimo.
Assim, o governo foi obrigado a rever a sua estratégia e o Cruzado afundou e, antes de criar a nova moeda, o governo federal cortou gastos públicos, elevou as receitas, com aumento de impostos, com a desvinculação de parte das transferências da União, e iniciou a privatização de estatais.
O Real foi instituído por medida provisória, o que exigiu a sua votação pelo Congresso Nacional, em 1995, diferentemente do Cruzado, que foi criado antes da Constituição de 1988, por meio de um decreto-lei. Quando o Real realmente entrou em vigor, Fernando Henrique Cardoso já não era mais ministro, ele já havia saído do cargo e era pré-candidato a Presidente da República.
Após a criação do Plano Real, a inflação no país conseguiu se manter relativamente controlada. Poucas vezes, depois de 1996 o índice ultrapassou a casa dos 10% ao ano. Por exemplo, de junho de 2023 a maio de 2024, o IPCA ficou em 3,93%. Contudo os três pilares do Plano Real, que eram o controle fiscal, a equiparação ao dólar e criação de uma moeda forte já se apresentam de maneira combalida.
O Real é desvalorizado e se torna cada mais fraco, dia após dia, em relação ao dólar, que já ultrapassa os R$ 5,56 e ao Euro, R$ 5,93, e nada vai mudar, só piorar, posto que para o vice-presidente Geraldo Alckmin e parte da equipe econômica, o “câmbio está competitivo”. O po-der de compra do brasileiro também caiu nos últimos 10 anos e o rendimento médio mensal do brasileiro foi de R$ 3.034 em novembro último, segundo os resultados do IBGE. No mesmo trimestre de 2013, o valor seria o equivalente a R$ 2.909 em termos reais. Trata-se de uma alta de apenas 4,3%.

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