
Roberto Tanaami e sua cabritinha
Eu nasci em 1947. São Bernardo daquela época, parecia muito com uma cidade do interior. Na verdade, era chamada cidade interiorana, pois era muito difícil chegar à capital, São Paulo.
Naqueles tempos a cidade dava os primeiros passos rumo ao desenvolvimento, com surgimento das indústrias de tecelagem, de móveis. Meu pai, um jovem economista formado na Faculdade Alvares Penteado, cansado segundo ele, da já agitada São Paulo, com o corre-corre da cidade grande, resolveu mudar-se para São Bernardo, atraído por uma oportunidade de emprego – trabalhar como contador ou guarda livros, como era assim denominado os que exerciam essa profissão, na Tecelagem Villa de São Bernardo, da família Setti.
Para morar conseguiu junto ao seu patrão, uma das modestas casas, seis ao todo, que havia dentro da grande área onde estava instalada a tecelagem, na rua Terezi-nha Setti. A rua era de terra, toda plana, casas simples nos dois lados da rua, ao todo umas vinte, e o restante um grande descampado. Pois foi numa dessas seis casas que eu vim morar logo ao nascer. Casa com dois dormitórios, sala, cozinha e banheiro, com um jardim na frente e um grande quintal nos fundos.
São Bernardo daqueles tempos, não contava com armazéns, mercearias, lojas, onde a exem-plo de hoje, se podia comprar de tudo. Na verdade, o que existiam eram pequenos estabelecimentos onde se vendiam gêneros de primeira necessidade, como arroz, feijão, açúcar cristal, sal, óleo, farinha de trigo, fubá, batata e cebola, bem como panelas, leiteiras, canecas, baldes, utensílios de cozinha, enxada, enxadão, rastelo, foice, facão. Alguns vendiam até tecidos, onde as mulheres quase todas bem prendadas, compravam a chita, para fazerem seus vestidos.
Lá pelos anos 1950, meu pai fez do quintal de casa, uma chacrinha, onde passamos a ter uma horti-nha, muito comum nas casas daquela época, onde se plantava, couve, salsinha, cebolinha, almeirão, etc.
Um cercadinho com galinhas, pintinhos, cabritinha e seu filhote, do outro lado tinha até um ba-lanço, onde eu podia brincar com meu cachorrinho – um basse-zinho. Tive uma infância muito feliz, pois adorava agarrar o cabri-tinho, cuja mãe, fornecia o leite para o meu sustento, bem como correr atrás dos pintinhos, cuja galinha choca, ficava furiosa ao ver seus filhotinhos atacados pelo intruso japonesinho, que fazia daquilo a sua diversão.
Foram belos tempos.
Roberto Tanaami – integrante da AME (Associação dos Amigos da Memória de São Bernardo)

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