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Amy Winehouse, essa moça infeliz

Ela não foi do meu tempo. Meus ídolos foram Bing Crosby, Sinatra, os Beattles, Sarah Vaugham, Lenna Horn,Tommy Dorsey, Benny  Goodman. Por aqui, meus preferidos eram Silvio Caldas, Chico Alves, Aracy de Almeida, Carmen Miranda, Os Anjos do Inferno, e tantos outros.. Mas essa infeliz maluca que aos 27 anos de idade foi encontrada morta em seu apartamento em Londres nunca me emocionou com sua música que, dizem, tinha laivos de genialidade. Viciada em drogas, álcool e fumo, terminou como sua própria mãe, que bem a conhecia, lembrou: era apenas questão de tempo. A moçada que a seguia, delirando com sua arte e suas públicas estrepolias, vem oferecendo um espetáculo à parte nessa tragédia: gritos, choros, desmaios, colocação de flores, velas, bebidas, cigarros, na praça em frente à casa dela. O mundo é um só e sua gente idem nas suas demonstrações de carinho e inconformismo diante da queda de seus ídolos e do  desmoronamento de seus sonhos. Passageiros, claro, como são todos os sonhos, como tudo é tão desalentadoramente fugaz nesta nossa vida. Num tempo em que se estimula o interesse pelo bem estar, a saúde, a higidez do corpo buscada à custa da freqüência alucinada às academias de ginástica, os jovens procuram o caminho inverso da devassidão, dos prazeres, dos vícios, das drogas e das bebidas, das baladas e das noites sem hora. E se revelam, acintosamente, alheios aos riscos e também às ajudas dos pais e dos amigos. É como se fosse uma espécie de autodestruição ou de suicídio no desprezo total, talvez às vezes só aparente, por valores maiores da nossa existência fugaz sobre a face da terra. 
Amy Winehouse seguiu a trilha de outras celebridades de seu tempo: Janis Joplin, Billie Holiday, e mais recentemente Michael Jackson, todos mortos prematuramente vitimas da intemperança e de overdose. No fundo, esse desapreço pela vida e pelo sucesso, ainda que aparente, revela o desajuste desses infelizes em face de uma sociedade que abominam, também por certo, só aparentemente. O ganho fácil, as fortunas tão rapidamente acumuladas, assim como os aplausos e o clarão dos holofotes (tal como ocorre com certos astros do nosso futebol), empurram esses pobres milionários de dinheiro e de fama, para os escuros de uma viagem sem volta.

Tito Costa é advogado, ex-prefeito de São Bernardo do Campo e ex- deputado federal constituinte de 1988. E-mail: antoniotitocosta@uol.com.br