Editorial

A batalha dos bonés

Mais uma batalha foi iniciada entre os protagonistas políticos das correntes ideológicas que pairam no País. Desta vez, a “batalha do boné”. Nessa semana, governistas e oposicionistas utilizaram da mesma estratégia de marketing político para passar mensagens por meio de um acessório de moda: o boné.
O movimento começou com o boné vermelho do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, estampado com seu mote: “Make America Great Again”, mas em janeiro último, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, utilizou o mesmo boné, além do deputado Nikolas Ferreira (PL-MG) e do ex-candidato a prefeitura de São Paulo, Pablo Marçal.
Agora, o ponto alto da “batalhe do boné” ocorreu durante a abertura do Legislativo, na segunda (3), quando parlamentares tomaram o plenário da Câmara usando adereços com frases que refletiam suas correntes ideológicas.
De um lado, opositores ao governo usaram bonés verdes e amarelos estampando a mensagem: “Comida barata novamente. Bolsonaro 2026”, de outro, a base governista usou bonés azuis com a mensagem: “O Brasil é para os Brasileiros”. Até o presidente Luiz Inácio Lula da Silva apareceu, após o episódio na Câmara, em um vídeo nas redes sociais, usando o mesmo boné azul com a frase emblemática.
É evidente que o uso de bonés ou peças de vestuário na política aponta para a intenção de passar recados de vertentes ideológicas. O movimento não é uma novidade, seja na década de 90, com os “cara-pintadas”, que reivindicavam a saída do ex-presidente Fernando Collor, seja nas eleições de 2018 e 2022, com as camisetas verde-amarelas, as bandeiras vermelhas, etc.
Tudo isso demonstra que, apesar do Partido dos Trabalhadores (PT), do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, e o Partido Liberal (PL), de Jair Bolsonaro, terem estado juntos em prol da mesma candidatura para a presidência da Câmara dos Deputados, a do, agora eleito, Hugo Motta (Republicanos-PB), e do Senado, com o presidente eleito, Davi Alcolumbre (União-AP), a polarização partidária no Brasil continua dividindo o País.
Se o tom dos discursos na reabertura dos trabalhos do Legislativo, do Judiciário e até na cerimônia de 190 anos da Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo (Alesp) foi de harmonia, com acenos para a democracia, deixando de lado diferenças ideológicas, o uso de bonés, camisetas e bandeiras sinaliza o contrário dessas palavras.
A estratégia de marketing político do uso de peças de vestuário, por exemplo, é criar devoção, fidelidade ou, até mesmo, fanatismo, quase como ocorre com torcedores de futebol. O efeito é o mesmo, quem torce pelo Palmeiras e usa uma camiseta deste time, detesta o Corinthians e vice versa. O mesmo ocorre com quem utiliza o “Comida barata novamente. Bolsonaro 2026” ou o “O Brasil é para os Brasileiros”. O efeito é um só: divisão, lados diferentes, bem definidos, que não se misturam e só causam mais ódio e separação entre os brasileiros.
Ainda que possa ser só na retórica, as palavras do presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Luís Roberto Barroso, em seu discurso de pacificação, se fazem válidas no que tange a urgente necessidade de união das diferenças ideológicas em prol do Brasil. “Não há pensamento único no País, porque isso é coisa de ditaduras, mas as diferentes visões de mundo são tratadas com respeito e consideração”, disse. “A democracia tem lugar para todos: liberais, progressistas, conservadores. Só não tem lugar para quem não aceita jogar o jogo pelas regras da democracia”.

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