O presidente da Construtora Jacy e do Grupo Motiró, Marcus Santaguita, em entrevista exclusiva, revela os novos empreendimentos em Santo André, São Caetano, São Paulo e Indaiatuba. Fala sobre as conquistas dos 52 anos da Jacy. Ainda conta sobre como é feita a compra de novas áreas para os empreendimentos e revela quais municípios do ABC têm legislações mais favoráveis para se construir.
Ao comentar sobre os desafios do setor, transparece força e resiliência. “Tem que, na hora que vem o desafio, correr atrás e fazer. Tem que seguir”, diz. Confira.
FOLHA DO ABC- Em termos de lançamento, entregas, como foi o ano de 2024 para a Construtora Jacy e para o grupo Motiró? Para 2025, qual a expectativa?
Marcus Santaguita- Em 2024, tivemos o lançamento de um grande empreendimento em Santo André, no bairro Casa Branca, que se chama Motiró Casa Branca. São 200 unidades, ele já atingiu70% de vendas, então ele foi um empreendimento muito bom, foi vendido muito rápido. A arrancada dele no primeiro mês já saiu 40% vendido. É um empreendimento que a gente vai começar as obras, agora, em abril, e ele teve o lançamento em agosto do ano passado.
Agora, para 2025, vamos ter um lançamento em Indaiatuba, que deve acontecer, agora, logo no segundo semestre. Adiamos um pouquinho ele, por conta dessa alta de juros, essa instabilidade toda. Estão falando que a Selic vai chegar a 15%. Então, uma taxa de juros alta é muito prejudicial para o nosso setor. Demos uma segurada, mas não pode passar muito no segundo semestre. Temos que lançar, até porque tem uma questão de vencer o alvará e tudo mais.
Vamos fazer um lançamento no mês que vem, em São Caetano, no bairro Barcelona. É um prédio pequeno, são 44 unidades. Em São Caetano, é muito difícil se formar áreas e tal. Este terreno, demoramos um ano para formar ele, é composto de cinco casas, a gente derrubou as casas e vai fazer o prédio. Fizemos já o “pirata”, que é a reserva de unidades, a demonstração, só que sem mostrar o decorado e sem assinar vendas ainda. Voltando do Carnaval, a gente já vai liberar para assinar a venda, para abrir o decorado para o público. Então, esse é o lançamento mais recente.
Adquirimos outra área, recentemente, estamos aprovando o projeto, em São Paulo, a 100 metros do metrô Praça da Árvore. Vão ser 88 unidades, apartamentos de 70 m² e de 120 m². Está bem perto do metrô, a gente até achava que o perfil lá era para fazer estúdio, um dormitório, mas não, está saturado. Fizemos uma pesquisa de mercado, está muito estocada a região da Saúde. Então, realmente fizemos outra pesquisa e o produto que encaixou bem foi um padrão melhor. Faz muito tempo que ninguém faz um prédio acima de 100 m² a unidade. Pegamos esse nicho e vamos trabalhar nisso.
Compramos, também, outro terreno, em São Caetano, recentemente, para um projeto maior. Vai ser alguma coisa entre 360 e 400 unidades. Estamos estudando, ainda, o tamanho da unidade. Se for uma unidade um pouquinho maior, vão ser menos unidades. Se forem unidades menores, aí pode ser que chegue perto das 400 mesmo.
Estamos fazendo, também, o estudo de produto ainda para poder começar a desenvolver o projeto. Então, basicamente, de lançamentos que a gente tem pela frente é isso.
FOLHA- Qual o diferencial dos empreendimentos da Jacy e do Grupo Motiró?
Santaguita- A diferença é que a gente sempre procura pesquisar o que o cliente está querendo. O público evoluiu muito rápido de gosto. O que é bom hoje, daqui a um ano ou dois anos, já não é mais.
Procuramos, sempre, estar atento a pesquisas pós-ocupação e antes mesmo de lançar o produto, a gente já faz uma pesquisa bastante ampla de mercado para saber quais itens de lazer as pessoas têm interesse, qual comodidade as pessoas querem.
Fazemos uma pesquisa bem aprofundada disso e, normalmente, a gente norteia o produto nisso. E o principal, acho, é a localização. Tomamos muito cuidado na compra dos terrenos, escolher boas localizações, porque ter um produto bom no lugar ruim, você não vai vender. Então, escolhemos a dedo os terrenos. Realmente é bem difícil comprar área, na nossa região há cada vez menos áreas disponíveis na nossa região. Procuramos escolher a dedo para realmente quando lançar, lançar assertivo, para realmente ter um desempenho bom de vendas.
FOLHA- Em relação a aquisições de novos terrenos para construção de empreendimentos, como é feita essa busca e qual cidade do ABC concentra as melhores ou maiores áreas? Há algum município que já apresenta saturação de áreas disponíveis?
Santaguita- Temos bastante contato com corretores que trabalham com áreas. Recebemos, constantemente, oferta de áreas. Para você ter uma ideia, a cada 50 terrenos que a gente analisa, um dá certo. É muito complexo, são muitas variáveis, tem que estudar muito o local que você está fazendo, tem que visitar várias vezes o terreno, em horários diferentes. A cada 50 áreas, uma a gente consegue fechar, dá certo.
Hoje, estamos com o maior número de projetos em Santo André, que é a cidade que vem com uma lei de zoneamento mais favorável para o setor. São Bernardo, praticamente, não temos nada, o que a gente tinha já entregamos. A lei de São Bernardo está muito ruim ainda. Temos expectativa que, com o novo prefeito, venha uma lei mais equilibrada, mais favorável. Mas, por enquanto, São Bernardo só tem um terreno, que é da Jacy e está na gaveta. Não vamos fazer nada por enquanto até esperar. Aliás, temos dois terrenos em São Bernardo, com o que compramos agora, no finalzinho do ano também. Mas, só vamos dar entrada em projetos, a hora que mudar a lei, ver o que vai vir pela frente. Aí, vamos voltar a investir em São Bernardo.
Atualmente, a grande praça nossa, hoje, é Santo André, onde concentra o maior número de lançamentos. Estamos, também, uma obra em Suzano, que é a primeira que a gente fez fora do ABC, uma experiência muito boa também. Foi muito bem de venda, até superou a expectativa, que a gente não conhecia a praça. Já está em obras, está, também, com 80% vendido, localizado no Centro de Suzano, apartamento de 60 e 80 m².

FOLHA- O setor da construção civil, em 2025, enfrentará desafios como escassez de mão de obra qualificada, transformação tecnológica e um cenário econômico desafiador. Como a Jacy e o Grupo Motiró vão enfrentá-los?
Santaguita- É o seguinte, a gente tem que encarar, não dá para voltar atrás, tem que seguir.Esses picos sempre aconteceram em outras fases, é um mercado de altos e baixos. Então, realmente, o que você falou é verdade, o grande desafio nosso do setor é a mão de obra. A gente não está tendo reposição de mão de obra. Então, você pode ver que os jovens não estão querendo vir para a construção civil.
Houve um envelhecimento nos funcionários. Você não encontra mais aquele pessoal de 18 a 25 anos nas obras, não tem mais. A faixa etária média subiu para 30 anos. Não está tendo reposição. Hoje, existem outras alternativas para os jovens trabalharem que não a construção civil.
É muito fácil ele trabalhar de aplicativo, de fazer entrega, por exemplo, de delivery. Ele não vai querer ficar trabalhando em condições mais árduas, disposto ao tempo, sol, chuva, muito esforço físico, sendo que ele tem a opção de trabalhar com uma moto, fazer entrega, ter horário livre.
Então, perdemos muita mão de obra para esses negócios de aplicativo. Está sendo feito um trabalho muito grande do SindusCon-SP e do Secovi-SP para tentar criar um tipo de plano de carreira, para criar algum atrativo para esses jovens poderem vir para o mercado, verem que tem uma condição de fazer uma carreira. Não digo nem tão qualificado, a mão de obra não qualificada não tem. Não conseguimos contratar ajudante. Não precisa fazer nada, não precisa saber nada. Só precisa ter força física. A gente não consegue contratar.
O que estamos tentando fazer é industrializar o máximo possível. Ainda, no Brasil, não há uma tendência de industrialização. É tudo muito caro ainda para industrializar, mas estamos tentando algumas coisas que dá para fazer.
Por exemplo, lajes pré-moldadas. As lajes dos empreendimentos, fazemos fora, em uma indústria e quando chega ao canteiro é só pegar na grua e jogar para cima do prédio. Com isso, eliminamos vários postos de trabalho de carpintaria e de armação. É um exemplo.
Estamos tentando achar alternativas, e que, logicamente, hoje, não tem muita coisa disponível, o que tem disponível é muito caro, não viabiliza ainda.
Então, é um desafio que todo o setor tem que enfrentar. Todas as construtoras estão com esse mesmo problema, muito empreendimento em andamento e não tem mão de obra suficiente. Se o governo voltar a investir em obras públicas, também vamos perder mão de obra para as obras públicas. Esse é um problema sério também, pode acontecer. O governo parece que vai começar a tirar alguns projetos da gaveta. Então, realmente é um desafio grande pela frente.
FOLHA- A Jacy completa neste ano 52 anos de fundação. Qual avaliação o sr. faz deste período e qual a representatividade da construtora, hoje, no ABC, em relação a empreendimentos, unidades?
Santaguita- É bastante tempo. Ela pegou, praticamente, todos os planos econômicos. O Plano Collor, Plano Sarney, todos esses. Então, é um mercado de altos e baixos. Começamos num esquema de trabalhar preço de custo de uma obra por administração e depois, a partir do momento que assumi a empresa, mudei o perfil para lançamento a preço e prazo certo, que é outro tipo de mercado, diferente.
A cada dois, três anos tem um ciclo de alta, ciclo de baixa. Estamos no Brasil, que é totalmente instável, não tem segurança jurídica, as coisas mudam do dia pra noite. No ano passado, se falava que ia fechar dezembro, com a Selic a 9%, deu uma inflexão e já está se falando em 15%. Não temos previsibilidade no país.
Como o nosso mercado é de ciclo longo, são cinco anos, entre comprar o terreno, fazer o projeto, fazer a incorporação, entregar o prédio, se leva cinco anos. Muita coisa acontece no Brasil em cinco anos. Então, começamos de um jeito e acabamos de outro. Esse foi o grande desafio. Mas, estamos acostumados. Tem que, na hora que vem o desafio, correr atrás e fazer. Não temos outra opção. Você não pode parar no meio do processo.
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