Editorial

A falta de interesse dos jovens em cursar faculdade

Não é novidade que cada vez mais os jovens estão diminuindo o interesse por cursarem uma faculdade e aumentando a intenção de se tornarem influenciadores digitais. O índice de evasão da educação superior no Brasil chega a 57,2% entre redes pública, privada e ensino presencial e a distância (EaD), de acordo com dados do Mapa do Ensino Superior no Brasil de 2024.
A evasão é observada com mais intensidade na rede privada de ensino, que concentra 88% das instituições de ensino superior (IES) no país, do total de 2.595. Entre as modalidades presencial e EaD, esta conta com maior taxa de abandono do ensino superior, ocupando 56,3% das graduações. Nas instituições privadas, a evasão chega a quase 61%, já nas públicas, é menos de 40%. Cursos presenciais têm 52,6% de desistência, enquanto à distância têm 64%.
Além disso, pesquisa realizada pelo Senai (Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial) mostra que 43% dos jovens brasileiros têm pouco ou nenhum interesse em fazer um curso técnico, ou profissionalizante. Desse total, 23% responderam ter “pouco interesse”, enquanto 20% disseram ter “nenhum interesse”.
O principal motivo que leva os jovens a abandonar os estudos continua sendo o financeiro, ou seja, a dificuldade em arcar com as mensalidades de instituições privadas, ou porque necessitam trabalhar. Somado a isso, há o desejo de se tornarem influenciadores digitais.
“Qual faculdade você pensa em fazer no futuro? Faculdade? Eu já ganho mais que 5 médicos no mês”, “Não me garanto em muita coisa, mas coloca um celular na minha mão pra ver se eu não faço R$ 50 mil no mês”. Frases como essas são ditas por adolescentes em vídeos publicados em contas com milhares de seguidores no Instagram e no TikTok, que atraem jovens com dicas ou até mesmo aulas online que ensinam como faturar no mundo virtual.
O Brasil tem cerca de 2 milhões de influenciadores digitais, conforme apontam dados da empresa de marketing de influência, Influen-cy.me. A quantidade é 67% maior do que a registrada em março de 2024, de 1,2 milhões. Entre eles, a faixa etária da maior parte deles fica entre 25 e 34 anos (48,66%). Na sequência, estão aqueles entre 13 e 24 anos (39,37%) e 35 e 44 anos (9,19%). Apenas 2,75% deles têm entre 45 e 54 anos, e 0,02% têm acima dos 55. Mais da metade são do sexo feminino, representando 56%, e 43% do sexo masculino.
Mas, a depender do desejo dos jovens, é possível que essa quantidade aumente ainda mais. Isso porque, 57% das pessoas da geração Z têm o desejo de se tornarem influenciadores digitais, de acordo com pesquisa desenvolvida em 2023 pela empresa de inteligência de mercado Morning Consult. A porcentagem é ainda maior entre os brasileiros. Conforme um levantamento feito em 2022 pela INFLR, startup de marketing de influência, 75% dos jovens do país sonham em ser influenciadores.
A ideia do enriquecimento via marketing digital e do “nunca mais tenha patrão” é vendida de forma escancarada nas redes sociais e acabam seduzindo os jovens. Assim, o efeito gerado nos jovens é de encantamento com a possibilidade de ficarem ricos e conquistarem todos os bens, conforto e experiências que tanto vislumbram de uma forma mais rápida e fácil do que investindo anos em uma formação acadêmica.
Porém, não há filtros para a falta de ética, irresponsabilidade, nem falta de transparência, que acabam pautando o discurso raso da “riqueza milagrosa”. Não necessariamente os “heróis” das redes sociais vão conseguir se manter durante toda a vida por meio do marketing digital e é preciso lembrar que todos os jovens também vão envelhecer e é preciso planejamento financeiro consistente para todas as fases da vida e analisar se será possível mesmo se posicionar como influenciador por décadas de vida, para não correr o risco de apenas surfar na efemeridade de ser um influenciador digital.

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