As bets (apostas) têm tomado conta da sociedade brasileira. Seja no trabalho, na faculdade, no trânsito ou até mesmo em escolas, é possível encontrar alguém na tela do celular fazendo uma aposta e acreditando na promessa de dinheiro fácil.
Levantamento da BigDataCorp, maior datatech da América Latina, mostrou que esse setor vem crescendo de forma acelerada no País. O número de empresas cadastradas saltou de cerca de 840 no final de 2022 para mais de 2,1 mil no final de 2024, um crescimento de 153%. Em 2025, os números apontam para mais de 1,2 mil novas empresas abertas no segmento, o que, caso se confirme, representaria um crescimento de 61,52% sobre o ano anterior.
esde que o mercado regulado de bets começou a operar no Brasil em 1º de janeiro deste ano, as mais de 150 casas de apostas autorizadas a funcionar movimentam de R$ 20 bilhões a R$ 30 bilhões todo mês, de acordo com estimativa do Banco Central.
O Brasil registrou movimentação de aproximadamente R$ 350 milhões em apostas ilegais, apenas nos primeiros dois meses de 2025, segundo o site Aposta Legal. O levantamento identificou mais de 30 milhões de acessos a esses sites.
Entretanto, as apostas não surgiram agora no País. Elas fazem parte da cultura brasileira há séculos, atravessando períodos de proibição e legalização, refletindo as mudanças sociais e econômicas do país. Nos últimos anos, o setor passou por uma transformação significativa, impulsionado pelo avanço tecnológico e pelo crescente interesse do público.
Trazidas pelos europeus junto com jogos de cartas, dados e outras formas de entretenimento as apostas chegaram ao Brasil no século XVI. As primeiras casas de apostas surgiram, no século XVIII, impulsionadas pelo sucesso das corridas de cavalos, que se tornaram um passatempo popular, especialmente entre as classes mais altas. Em 1892, foi criado o famoso Jogo do Bicho para aumentar a arrecadação do zoológico no Rio de Janeiro. Já em 1917, houve a criação da primeira loteria oficial do país, a Loteria Federal.
Em 1934, na era Getúlio Vargas, os cassinos foram legalizados e deram início à “Era de Ouro” do jogo no Brasil. Durante esse período, os cassinos se tornaram centros de entretenimento, promovendo não só jogos como roleta, blackjack, baccarat e pôquer, mas também espetáculos musicais, artísticos e jantares dançantes. Em 1946, o então presidente Eurico Gaspar Dutra proibiu a exploração de jogos de azar e cassinos no Brasil, que continuaram a existir na clandestinidade.
Em 2023, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva sancionou a lei que regulamenta o mercado de apostas esportivas online no Brasil. Atualmente, mais de 37 bets, marcas de casas de apostas podem operar no País, até 2029.
No entanto, ainda que na legalidade ou clandestinidade, o problema das bets é o vício. Estudo da Sociedade Brasileira de Varejo e Consumo (SBVC), em parceria com a AGP Pesquisas, mostrou que 63% de quem aposta no país teve parte da renda comprometida com as bets. Outros 19% pararam de fazer compras no mercado e 11% não gastaram com saúde e medicamentos. Além disso, beneficiários do Bolsa Família gastaram mais de R$ 3 bilhões em sites de apostas.
Assim, fica evidente que o vício nas bets já se tornou um problema social e de saúde pública no Brasil. Foi instaurada até uma CPI para investigar a crescente influência das apostas online no orçamento das famílias brasileiras, da possível associação com organizações criminosas envolvidas em práticas de lavagem de dinheiro, e o envolvimento de influenciadores digitais na promoção e divulgação dessas atividades, tais como Gusttavo Lima, Wesley Safadão, Viih Tube, Virginia Fonseca, etc.
Porém, com o faturamento milionário das bets e os altos valores no pagamento das outorgas fica difícil acreditar que as bets não vão aumentar ainda mais e, com isso, triplicar o número de viciados nos próximos anos no Brasil.
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