Nas eleições presidenciais de outubro, a polarização, entre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o presidente Jair Bolsonaro (PL), parece ter se consolidado e a disputa deverá seguir o mesmo tom das eleições de 2018, ou seja, do “nós contra eles”, do “bem contra o mal” e do “nem nem”.
O cenário para a disputa do Governo de São Paulo também poderá sentir os reflexos dessa polarização. Na pesquisa mais recente de intenção de voto, da Exame/Ideia, divulgada no dia de junho, o ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad (PT) figura na liderança da corrida eleitoral para o Palácio dos Bandeirantes. O petista obteve 27% das intenções de voto. Na sequência apareciam Tarcísio de Freitas (Republicanos), com 17%, e Márcio França (PSB), com 14%. Rodrigo Garcia (PSDB), atual governador de São Paulo, teve 11% das intenções de voto.
O governador e pré-candidato do PSDB ao Palácio dos Bandeirantes, Rodrigo Garcia, tem procurado se dissociar do ex-governador João Doria (PSDB) para subir nas pesquisas. Em estilo low profile, com aversão ao excesso de exposição, Rodrigo deixou de lado as reuniões de secretariado às segundas-feiras no Palácio, e tem feito um governo itinerante, rodando, bastante, por cidades do interior do Estado e na Região Metropolitana, ampliando o contato eleitoral. “Sou candidato da minha história. Fui vice do João Doria. Um é diferente do outro”, disse Rodrigo em entrevista ao Estadão. Ao jornal O Globo, seguiu a mesma linha: “O Doria tem um histórico de dedicação como governador. Mas, a candidatura quem está disputando sou eu. Ninguém disputa a eleição por mim. Eu não sou candidato de ninguém”, enfatizou.
O pré-candidato do PT, Fernando Haddad, que lidera as pesquisas de intenção de voto, aposta que vai superar o antipetismo na disputa. Em recente entrevista ao Estadão, afirmou que “todo partido que tem força tem torcida contra. Só não tem torcida contra quem não é grande”. Haddad também minimizou a dificuldade história do partido de entrar no interior de São Paulo. “Agora vai entrar, com um bom plano de governo. E também porque nem o Rodrigo (Garcia), é tucano, nem o Tarcísio (de Freitas) é paulista. Vai entrar porque nós amadurecemos. A vida muda. A política não é estática”.
Já o pré-candidato e ex-ministro da Infraestrutura Tarcísio de Freitas (Republicanos) é o representante do governo do presidente Jair Bolsonaro (PL) na disputa, mas tem rejeitado a narrativa radical, marca dos militantes bolsonaristas. Em recente entrevista ao Estadão, chegou a afirmar que “O governo (Bolsonaro) teve muita entrega, mas pecou na narrativa em algumas questões” e que há diferenças entre o presidente e ele. “Somos pessoas diferentes, com perfis diferentes”, definiu. Tarcísio também já trabalhou em um governo petista. Em 2014, no governo Dilma Rousseff (PT), assumiu a direção-geral do Departamento Nacional de Infraestrutura e Transportes (Dnit). O republicano também não é radical nas menções aos tucanos. “São Paulo é um Estado que está estruturado e que tem uma burocracia bastante arrumada. Fizeram (os tucanos) ajustes importantes no passado”, diz. Mas, Tarcísio diz que “há um cansaço do eleitor paulista com o PSDB. A gestão dos últimos quatro anos deixou muito a desejar. E falta (ao Rodrigo) estar colado em um candidato presidencial forte”, diz.
E, o pré-candidato e ex-governador Márcio França (PSB), ainda mantém seu nome na disputa pelo Palácio dos Bandeirantes, mas tem sido pressionado pelo PT para tentar uma vaga no Senado, apoiando, assim, Haddad. Apesar de dizer que sua candidatura “alivia a tarefa do Lula em São Paulo”, também afirma que não pode ser acusado de incoerente, pois nunca combinou com “esse tom de vermelho. Não é o meu estilo. Sou do PSB há 40 anos, foi meu único partido”, afirma.
Ainda faltam mais de três meses para o pleito, mas três aspectos irão pesar na escolha do eleitor, para o novo governador para os próximos quatro anos, o legado de mais de 30 anos do PSDB, o peso das canetas, seja estadual ou federal e os reflexos da polarização.