Opinião

A hipótese de guerra cibernética russa (I)

A capacidade da Rússia de desencadear ataques cibernéticos devastadores à infraestrutura militar e civil da Ucrânia pode ter sido exagerada, de acordo com um chefe de espionagem britânico, já que as defesas ucranianas provam ser resistentes a alguns dos ataques mais sofisticados do país.
“Talvez o conceito de uma ‘guerra cibernética’ tenha sido exagerado”, disse Jeremy Fleming, chefe da agência de inteligência de sinais britânica GCHQ.
Embora os temores de uma guerra online ainda não tenham se materializado, apelidado por alguns analistas de inverno cibernético, Fleming alertou em um discurso na conferência CyberUK, na terça (10), que a ameaça da Rússia permanece real.
Os comentários de Fleming vieram quando a UE, o Reino Unido e os EUA divulgaram declarações conjuntas dizendo que era “quase certo” que a Rússia era responsável por um ataque cibernético antes do amanhecer a uma empresa de internet via satélite sediada nos EUA que incluía militares ucranianos entre seus clientes.
O ataque, que começou horas antes da invasão da Ucrânia pela Rússia, afetou “dezenas de milhares” de modems e se espalhou para fora da Ucrânia, atingindo clientes na Europa central.
“Esta é uma evidência clara e chocante de um ataque deliberado e malicioso da Rússia contra a Ucrânia, que teve consequências significativas para pessoas e empresas comuns na Ucrânia e em toda a Europa”, disse a secretária de Relações Exteriores do Reino Unido, Liz Truss.
Alguns analistas alertaram que a Rússia pode estar retendo suas capacidades mais sofisticadas, que podem derrubar usinas de energia ou interromper outras infraestruturas críticas, ou focando suas capacidades em espionagem por enquanto.
Ao mesmo tempo, grupos de hackers, trabalhando diretamente com o governo russo ou prometendo fidelidade ao presidente Vladimir Putin e sua guerra na Ucrânia, continuam operando nos cantos mais sombrios da internet.
O chefe de espionagem britânico disse na conferência no País de Gales que “há muito cibernético – vimos o que parece ser algum transbordamento de atividade afetando outros países. E vimos indicações de que os agentes cibernéticos da Rússia continuam procurando alvos em países que se opõem às suas ações.”
Seu discurso ocorre no momento em que a OTAN e aliados ocidentais continuam se preparando para ataques online da Rússia, e agências como o Centro Nacional de Segurança Cibernética do GCHQ pressionaram a indústria a permanecer vigilante.  (Continua)