
A indústria química e petroquímica desempenha um papel fundamental no desenvolvimento econômico mundial. É indústria das indústrias, responsável por transformar matérias-primas em materiais e produtos usados em diversas áreas. No entanto, o setor enfrenta uma série de desafios para alcançar um crescimento sustentável. Neste contexto, a Braskem vem investindo continua-mente em ações para fortalecer a competitividade do setor.
Luís Antônio Pazin, presidente do Comitê de Fomento Industrial do Polo do Grande ABC (COFIPABC), e Alexandra Gioso, gerente de Relações Institucionais da Braskem Sudeste, em conversa à Folha, elencam os principais desafios do setor e as possíveis ações para aumentar a competitividade da indústria química nacional.
Folha do ABC – Qual a importância que a indústria química exerce, não só na vida das pessoas, mas na economia do País?
Luís Antônio Pazin – A indústria química é essencial para o nosso cotidiano e para o desenvolvimento econômico do País. Ela está presente em praticamente tudo: na caneta que usamos, no combustível que move nossos veículos, nas roupas que vestimos, na saúde, no agronegócio. É a indústria das indústrias. Muitas cadeias produtivas começam a partir dela.
No caso do Polo Petroquímico do ABC, temos a Braskem, que consome insumos básicos e abastece uma cadeia robusta ao seu redor. São 17 empresas integrantes do COFIP ABC, gerando empregos qualificados, desenvolvimento tecnológico e impacto direto na arrecadação dos municípios. O Polo responde por cerca de 30% da receita de Santo André e 60% da receita de Mauá.
Além da atividade industrial, há toda uma cadeia produtiva de segunda e terceira gerações, que contribui para a geração de renda e desenvolvimento local. A indústria química tem o poder de transformar o Brasil, deixando de ser apenas um exportador de commodities para se consolidar como um gerador de valor agregado.
Folha – A indústria química enfrenta uma série de desafios para alcançar um crescimento sustentável, entre eles a necessidade de reduzir as emissões de CO₂. Como isso tem sido desenvolvido?
Pazin – Esse é um desafio global. A indústria química tem avançado muito em soluções sustentáveis, com foco na redução de emissões e no aumento da eficiência. Sustentabilidade e competitividade caminham juntas, ao consumir menos energia, gás e matéria-prima, a indústria se torna mais eficiente e, consequentemente, mais competitiva.
Nos últimos anos, os avanços tecnológicos foram significativos. Os processos de hoje são muito mais eficientes do que há décadas. E novas soluções, como a captura de carbono, eletrificação e uso de energias renováveis, estão cada vez mais presentes.
O Brasil, por sua matriz energética majoritariamente limpa, tem uma vantagem competitiva. No caso da Braskem, parte da energia consumida vem de fontes renováveis, como parques eólicos e solares. Também temos metas ousadas de descarbonização e circularidade.
Hoje, não se olha apenas para o que acontece dentro dos limites da planta, mas para todo o ciclo de vida dos produtos. É uma mudança de visão necessária para atender às demandas da sociedade e do planeta.
Alexandra Gioso – Esse avanço só se concretiza plenamente se houver uma ação conjunta com o setor público e a sociedade. Por exemplo, a reciclagem, que é fundamental para a circularidade do plástico, não acontece sozinha. O plástico não vai ao mar por conta própria. É preciso educação, infraestrutura e políticas públicas.
O Brasil tem potencial para ser um líder global na produção sustentável, mas isso requer investimento contínuo em tecnologia e inovação, com apoio de políticas públicas que incentivem essa transformação. Sustentabilidade e competitividade não se separam mais. Uma depende da outra para avançarmos.
Folha – A indústria química nacional está sendo substituída pela importação de produtos e a produção de químicos tem se deslocado para a Ásia. É possível reverter esse movimento?
Pazin – Esse movimento é reflexo de uma reorganização geopolítica. A China, por exemplo, adotou uma política de Estado para impulsionar sua indústria petroquímica, com investimentos maciços e nem sempre seguindo uma lógica econômica tradicional. Com isso, passou de importadora a exportadora de produtos petroquímicos, afetando o equilíbrio global.
Além disso, questões como a guerra entre Rússia e Ucrânia e os embargos comerciais mudaram as dinâmicas de preços. Há casos em que o petróleo comprado indiretamente da Rússia, via China, chega ao mercado a um custo artificialmente mais baixo, o que torna a competição ainda mais desleal.
No Brasil, temos enfrentado um volume crescente de importações com indícios de prática de dumping, produtos que entram no país com preço abaixo do custo de produção local, às vezes até menor do que o preço praticado no próprio país de origem. Isso prejudica diretamente a indústria nacional.
Apesar de não conseguirmos alterar a conjuntura global, há ações internas possíveis. O preço do gás natural no Brasil, por exemplo, chega a ser quatro vezes maior do que nos EUA, o que compromete nossa competitividade. Precisamos de políticas públicas que garantam acesso a matérias-primas a preços justos, energia em condições semelhantes às internacionais e um ambiente de negócios mais previsível.
Temos capacidade tecnológica, capital humano e vontade para crescer. Mas são investimentos de longo prazo. Para colocar uma nova planta de pé, leva-se pelo menos quatro anos. Para torná-la rentável, décadas. Por isso, é fundamental uma visão de Estado que proporcione confiança e previsibilidade para que os investimentos aconteçam.
A Abiquim tem atuado nesse sentido, com o Programa PRESIQ (Programa Especial de Sustentabilidade da Indústria Química), que busca fortalecer a cadeia química com foco em matérias-primas e sustentabilidade. Mas, como em qualquer lugar do mundo, esse avanço só ocorre com uma política pública estruturada que dê suporte ao setor.
Folha – Como aumentar a competi-tividade da indústria química? Os governos, estadual e federal, estão sendo parceiros nesse processo?
Alexandra Gioso – Há um diálogo importante com o governo, especialmente por meio do PRESIQ, que está em tramitação na Câmara. O programa propõe uma série de ações: incentivos fiscais, estímulo à inovação e investimento, aproveitamento do potencial nacional, com o objetivo de tornar a indústria química mais estratégica para o Brasil.
Além disso, há políticas de defesa comercial sendo trabalhadas. Um exemplo é o antidumping, que permite aplicar sobretaxas a produtos importados com preços desleais. Já identificamos casos, como o da China, em que o produto é vendido no Brasil por um valor menor do que no mercado chinês. Isso impacta diretamente a operação nacional.
É importante lembrar que a indústria química precisa operar com ao menos 80% de sua capacidade instalada para ter boa performance, algo que não temos conseguido devido ao excesso de importações. O antidumping ajuda, mas é uma solução temporária.
Também tivemos, no ano passado, a renovação de tarifas de importação como instrumento de competitividade, com apoio das federações e do governo federal. Esse tipo de movimento estruturado é essencial para proteger e fortalecer o setor.
O momento é desafiador, mas há caminhos. Com políticas públicas consistentes, ambiente de negócios estável e incentivo à inovação, a indústria química pode retomar seu protagonismo como motor do desenvolvimento nacional.
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