Opinião

A prece pela refeição

Alex Atala, chef brasileiro enforcou, matou e decepou uma galinha em pleno palco num evento na Dinamarca em frente de centenas de pessoas. Participantes de um reality show esfaquearam caranguejos em rede nacional, alguns, ainda colocaram o crustáceo em água fervendo até que morressem. No muro do cemitério da Consolação, na capital, lê-se a pichação: ‘a carne é o alimento de um bicho que um dia queria viver’ – a sentença, em cor lilás, é assinada por um grupo de mulheres vegan. Eu, por exemplo, não gosto de pescar porque se eu fosse um peixe não iria querer morrer pela boca.
O Brasil é um dos maiores produtores de gado de corte do mundo – o que significa que é permitido criar touro, vaca e boi com o intuito de virar um protéico banquete em nossos lares. Assim também como o frango, já que o país é o maior consumidor mundial dessa ave. Tudo quanto é prato aqui tem frango e tal iguaria está presente em nossas mesas pelo menos toda a semana: coxinha, torta, frango frito, frango assado, isca de frango, churrasco de frango, hambúrguer, peito de frango, filé, espetinho. E eles morrem sem dó nem piedade por nós.
A selva também é aqui. Os seres humanos estão no topo da cadeia alimentar, o que indica que podemos e conseguimos comer todos e quaisquer tipos de animais abaixo de nós na pirâmide – isso inclui quase todo o reino animal. Diga-me um bicho que contenha carne e não se come? Existe um programa na televisão apresentado por um ex-capitão das Forças Americanas em que ele come escorpião, vivo, em pleno deserto – e isso é só um dos exemplos. Em alguns países come-se aranha, rato, até cachorro. Há históricos de aviões que caíram em lugares inóspitos onde os próprios seres humanos se comiam depois que um dos homens sucumbisse, aliás, eles torciam para que, naturalmente, o próximo morresse logo.  Há indícios na história de que a prática canibalesca era comum em certas tribos: questão de sobrevivência.
Há algum tempo um caminhão cheio de porcas tombou no rodoanel, SP. Os suínos se machucaram no acidente, levando a óbito alguns deles. Os bichos estavam a rumar para uma morte iminente onde virariam jantar postos às nossas mesas. Eu, particularmente, adoro carne de porco, sobretudo com limão. Nutricionistas são unânimes em afirmar que a carne de porco é a mais saborosa entre todas, e que traz muitos benefícios, haja vista contém muita proteína. O sabor é inigualável, além do que a carne suína possui mais gorduras insaturadas (65%) do que saturadas (35%). Já experimentaram um pernil de porco assado com cerveja preta? Uma costela de porco ao forno? Lombo de porco ao leite? Costela de porco com molho agridoce? Porco a milanesa… a lista é grande.
Fato é que ativistas foram acionados em defesa dos porcos, invadiram o Rodoanel e salvaram a vida dos bichos. Os animais que não morreram foram liberados porque, uma vez machucados, já não prestavam mais ao frigorífico comercialmente, e então as porcas foram parar num santuário na cidade de São Roque. Indignações à parte, fato é que sempre haverá pessoas em defesa dos bichos a fim de que não virem alimentos, e sempre haverá humanos que comem essas carnes. A dona de uma grife internacionalmente famosa veio a público, há um tempo, a defender suas modelos quem trajavam pele de animal nos desfiles: ‘Essas pessoas que me criticam por eu usar pele de animais em meus desfiles, são as mesmas que comem carne de bichos’ ou seja, com que direito alguns cidadãos têm de difamar quem usa uma bolsa de couro de boi, já que o mesmo pode parar em nossos pratos?
É bom lembrar que os animais no Brasil existem em formas definidas de lei – mas até aí não sabemos se os caçadores ou fazendeiros realmente cumprem as leis. Fato é que a hora da refeição é sagrada, e cada um faz sua prece.

 

‘Não se preocupe com o fracasso, você só precisa estar certo uma vez’ – Drew Houston, fundador do dropbox. (Massachussets, 1983).