Política

PT, 45 anos: “A quantidade de acertos do PT foi muito superior aos erros”, diz Luiz Fernando

O deputado estadual Luiz Fernando (PT), em entrevista exclusiva à Folha, falou sobre o seu terceiro mandato na Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp) e que disputará reeleição em 2026. Falou sobre sua aproximação com o prefeito de São Bernardo, Marcelo Lima (Pode), fez uma análise sobre o governo federal e comentou sobre as celebrações de 45 anos do PT.

Questionado se pretende repetir a experiência nas urnas, como candidato a prefeito de São Bernardo, em 2028, foi enfático: “2028 a Deus pertence, o meu foco é a continuidade do meu mandato agora até 2026”. Confira.

FOLHA DO ABC- O sr. está no terceiro mandato. Qual a conquista mais marcante para a população e qual o principal projeto na Alesp neste ano? No total, qual o valor das emendas parlamentares que o sr. destinou para a região?

Luiz Fernando- O terceiro mandato tem sido um mandato de muita resistência, sobretudo em relação ao Governo de São Paulo,que tem uma lógica de diminuir o tamanho do Estado. Tirou, no ano passado, R$ 11 bilhões da Educação pública, ou seja, uma educação que precisamos investir para melhorar. Privatizaram a Sabesp. Vamos ter apagão de água, tem sido uma resistência. Temos lutado muito em relação à questão da Enel, os apagões, a falta de energia, embora as contas sejam muito altas, e lutando, aprovando projetos, mas o governo veta todos os projetos aprovados na Assembleia Legislativa. Praticamente todos, não só da oposição, mas da base.

Então, estamos trabalhando para que o Estado permaneça forte, gere empregos, a segurança pública está ao caos. O nosso principal trabalho tem sido na resistência a esse governo, para tentar trabalhar e evitar esse desmonte. Mas, confesso, tem sido muito difícil.

FOLHA DO ABC- Desde o início do governo do prefeito Marcelo Lima, o sr. já o visitou no Paço Municipal por duas vezes. Como define essa aproximação com o prefeito?

Luiz Fernando- A eleição acabou para nós, para o Partido dos Trabalhadores, no dia 6 de outubro, quando a população, democraticamente, não nos encaminhou para o segundo turno. Tivemos o entendimento de que tínhamos duas opções. Era impossível a gente apoiar, que era o Alex Manente, por conta do bolsonarismo e tudo que o próprio Alex representa.

Então, nos mantivemos neutros. É fato que a nossa base, a maioria, caminhou com o Marcelo Lima e, terminada a eleição, só nos restava uma atitude que é aquilo que nos move, que é o povo da cidade, a nossa cidade, o futuro de São Bernardo.

Desde o primeiro momento, dissemos ao Marcelo que ele era o prefeito e que ele contasse com o nosso apoio. Pessoalmente, estive com ele outras vezes, não na Prefeitura, fomos junto com ele ao presidente Lula, eu, Luiz Marinho, Moisés Selerges Júnior, que é o presidente indicado, fazendo essa aproximação, dizendo ao presidente Lula que a nossa briga doravante seria pela cidade, pelo povo da cidade, pelo progresso de São Bernardo.

Depois disso, tenho estado com ele. Será uma relação de um deputado estadual que luta pelo povo da cidade, pela nossa cidade com o gestor da cidade que é o Marcelo Lima. Não fazemos aquela pequena política. Discutimos os rumos da cidade, quando e onde o nosso mandato pode ajudar e temos nos colocado à disposição dele.

FOLHA- Em 2026 a população, os seus eleitores poderão vê-lo novamente nas urnas disputando a reeleição como deputado estadual ou como deputado federal?

Luiz Fernando- Sem dúvida nenhuma, em 2026, o Partido dos Trabalhadores me pede para que eu seja candidato à reeleição. Conversei muito com o ministro Luiz Marinho, com o presidente estadual do PT, o Kiko Celeguim, que nos pediram para que não parasse, que continuássemos na caminhada.

Virei, sim, candidato à reeleição, provavelmente para o último mandato, até porque ser deputado estadual não é profissão. Sou empresário e tenho dado parcela importante da minha vida para a construção de um Estado de São Paulo melhor, para um ABC melhor e para uma São Bernardo melhor. Virei candidato a deputado estadual, virei candidato à reeleição e estaremos nas urnas sim.

FOLHA- O sr. participou de uma nova disputa eleitoral no ano passado pela Prefeitura de São Bernardo. Como avalia essa experiência? O sr. tem a intenção de repeti-la em 2028?

Luiz Fernando- Foi uma experiência muito importante. Representei o Partido dos Trabalhadores nas urnas. Foi uma honra muito grande para mim. Participei da eleição mais difícil, mais disputada. Para se ter uma ideia, os quatro candidatos ficaram na margem dos 20%.

Quem teve menos, teve na margem de 20%, quem teve mais, teve na margem de 20%. Ou seja, se pegar só os 20%, tira os percentuais, já dá 80% da população. Então, foi uma eleição muito disputada e tive a honra de participar dessa eleição.

Por poucos votos, não fomos ao segundo turno e, assim, elegemos uma bancada importante de quatro vereadores sendo duas vereadoras e dois vereadores, podendo chegar a uma quinta, porque existe uma ação na Justiça que discute um partido que teve candidato com zero voto, mínimo de votos e isso pode ter, se o Judiciário entender assim,um problema de burlar a legislação, sobretudo com candidatura feminina. Se isso acontecer, se o Judiciário chegar a essa conclusão, ganharemos até uma quinta cadeira no Legislativo de São Bernardo.

Então, foi uma disputa importante, saí muito honrado. E 2028 a Deus pertence, o meu foco é a continuidade do meu mandato agora até 2026, que podemos continuar fazendo um mandato que faça diferença, buscamos a reeleição. Quando fui vereador ainda era jovem, com 20 e poucos anos de idade, depois vim deputado e como candidato a prefeito.

Se tivermos algum nome melhor, assim também faremos a escolha. O importante é que quando a gente governa, os focos mudam, a gente cuida bem da cidade, cuida bem da educação, cuida bem da saúde, cuida bem da moradia, cuida bem do povo, gera emprego, cuidamos da indústria, enfim, e temos o governo começando. Agora, vamos ver como é que esse governo vai se comportar. Somos situação? Não. Não, é o nosso projeto que ganhou, mas é um projeto que torcemos para que dê certo.

“Virei, sim, candidato à reeleição, em 2026, provavelmente para o último mandato, até porque ser deputado estadual não é profissão”, diz Luiz Fernando

FOLHA- Como o sr. avalia o cenário do governo federal, considerando essa última pesquisa da DataFolha, na qual a aprovação do governo ficou em 24%? Além da alta do preço dos alimentos, que também tem afetado a popularidade do presidente Lula. 

Luiz Fernando- Essa pesquisa mostra que acende uma luz amarela. É importante a gente falar de duas pesquisas que saem mais ou menos ao mesmo tempo. Primeiro da Quaest, dez dias antes dessa pesquisa, diz que em qualquer cenário, o presidente Lula vence a eleição. Pode vir Tarcísio, pode vir Bolsonaro, pode vir quem vier, o Lula seria o presidente. Esse é um cenário que não descartamos. A Quaest, para mim, é o instituto mais sério de pesquisas que temos hoje no Brasil,que menos erra.

A DataFolha erra bastante, mas é uma pesquisa, e acreditamos naquele cenário, que mostra que a popularidade do presidente Lula caiu. Para mim, alguns fatores são muito importantes, as fake news, por exemplo. Uma das coisas que fez a popularidade do presidente Lula cair foi a questão de taxar o PIX.

 Nunca houve qualquer tentativa do governo federal de taxar o PIX e sim de fiscalizar. PIX acima de R$ 5 mil? O pobre não faz PIX de R$ 5 mil e foi dito que o governo queria taxar o pobre. Isso acabou trazendo um desgaste. Depois, os governos estaduais aumentaram o ICMS da gasolina. A gasolina subiu 10 centavos. Todo mundo faz alegação com o presidente Lula.

O presidente Lula não tem absolutamente nada com esse aumento de gasolina que tivemos, agora, recentemente. E, por último, o aumento dos alimentos, sobretudo o café, por conta do aquecimento global, o calor muito alto, a safra do café diminuiu muito.

Por outro lado, graças ao antigo presidente do Banco Central, o dólar estourou. Foi só mudar o presidente, o dólar começou a cair. Mas, esse dólar ainda está alto e o café é calculado o preço dele em dólar. Então, houve um problema de safra que é um problema do dólar. O café ficou lá, isso gerou uma inflação maior e um aumento em todos os alimentos. O presidente Lula está muito preocupado com esse alimento, com o preço dos alimentos. Soltou agora, semana passada, um projeto, um programa muito interessante, que é o Regulariza Campo.

Quem produz alimento? Não são os grandes produtores. Os grandes produtores produzem café, cana-de-açúcar, soja e milho. Não comemos isso. Comemos arroz, feijão, legumes e verduras. Esses produtos são produzidos por pequenos e médios produtores. Muitos deles, com dívidas ao longo deste tempo, sobretudo em relação à Covid.

O governo anterior não tinha política para a agricultura pequena, familiar, pequena e média. O que acontece? Eles tinham dívidas altas. O presidente Lula soltou agora um regulariza para o pequeno e médio produtor. Isso vai dar crédito ao pequeno e médio produtor. E qual a intenção do presidente Lula? Abaixar o preço da comida.

Não tenho dúvida nenhuma que essa pesquisa abre um sinal amarelo, mas também não tenho dúvida nenhuma que o governo federal está muito atento a essa situação, vai trabalhar para reduzir o custo do alimento e também melhorar a sua imagem.

FOLHA- O presidente Lula mudou já o seu ministro das comunicações. Acredita que o caminho para a reeleição do presidente está pavimentado ou falta algo?

Luiz Fernando- O governo federal comunica mal, vem comunicando mal. O Sidônio assume a comunicação muda. O presidente Lula, que é o maior comunicador deste país, vem à frente, agora, ele está dando as entrevistas, está passando a todos o retrato do seu governo.

Não tenho dúvida nenhuma, o PT não tem. Creio que o governo esteja sendo pavimentado. As condições para vencer a eleição estão sendo pavimentadas. Creio, estou muito otimista que o Brasil continuará em boas mãos, governador e gerido pelo nosso grande comandante, que é o presidente Lula, junto com todos os partidos que fazem parte do governo, junto com o vice-presidente.

Hoje, quem governa o Brasil não é um partido como foi de 2002, 2003 a 2016, quando deram o golpe na presidente Dilma. Ali o PT governava, hoje não. Hoje, o presidente é do PT, mas nós temos quase todos os partidos representados, menos a extrema direita, porque o Brasil hoje é governado por uma coalizão de forças e creio que deva seguir esse caminho.

FOLHA- O PT celebra agora 45 anos de fundação. Haverá um grande evento no Rio de Janeiro neste final de semana. Agora, em julho, o partido também irá eleger um novo presidente. Enfim, qual a análise que o senhor faz do PT hoje?

Luiz Fernando- Tivemos agora, no dia 14, na Câmara de São Bernardo, uma sessão solene em comemoração aos 45 anos do Partido dos Trabalhadores, onde tivemos a presença da velha guarda, Devanir Ribeiro, que ajudou a fundar o PT, foi metalúrgico aqui em São Bernardo, Luiz Eduardo Greenhalgh, ambos foram deputados federais. Todos os nossos ex-presidentes do PT,

Djalma Bom, que foi presidente do PT e foi deputado federal, também foi vice-prefeito e deputado estadual. Expedito Soares, que foi também um dos presidentes, foi o primeiro presidente municipal do PT de São Bernardo.

Tivemos a presença do ministro Luiz Marinho, do deputado Teonilio Barba, além da minha, e a nossa bancada, presidente de sindicatos, de movimentos sociais, numa sessão solene da nossa bancada, presidida pelo vereador Getulio do Amarelinho, mas também com as presenças das Ana do Carmo e Ana Nice e o Ananias.

Foi uma sessão diferenciada, tiveram presentes todos os nossos candidatos à última eleição, a vereador, nossos ex-vereadores, ex-secretários, mas, sobretudo, a nossa militância política. A Câmara ficou lotada. Muito bonito.  

O PT nasceu no início de 1980. Havia alguns partidos que representavam classes, mas nenhum deles representava a classe trabalhadora, nenhum deles. Nenhum deles representava uma defesa ao meio ambiente, nenhum deles combatia o racismo, a misoginia, a homofobia. Enfim, o Partido dos Trabalhadores nasceu para incluir a grande população brasileira, que estava excluída do orçamento público, e nasceu com um único fito, garantir direitos, lutar por melhorias, lutar pelo próximo.

Assim nasceu o PT e hoje, 45 anos depois, temos um legado de experiências positivas, avanços muito importantes, a ponto de termos um novo golpe. Deram um golpe na presidente Dilma, porque avançamos demais, nós começamos. O Brasil saiu de um país de terceiro mundo para a sexta economia do mundo.

As safras do Brasil, sempre recordes, a produção, a exportação do Brasil sempre recorde, mas o que mais nos interessou? O povo do Brasil. Erradicamos a fome, tiramos o Brasil do mapa da fome, que depois os dois outros presidentes recolocaram, estamos tirando.

Tivemos um emprego absoluto, não havia desemprego quando a gente governou. Hoje, já superamos a média lá de trás, hoje o Brasil vive pleno emprego, hoje está faltando mão de obra. Construímos universidades federais pelo Brasil todo, institutos federais, levamos o filho, do trabalhador, da empregada doméstica, à universidade, fizemos cota para o povo negro, defendemos índios, defendemos o meio ambiente, fizemos um Brasil melhor.

Então, tenho muito orgulho desses 45 anos, mas o PT só acertou? Não, o Partido dos Trabalhadores são compostos de seres humanos, homens e mulheres,que erram também, mas a quantidade de acertos nossa foi muito superior aos erros que a gente cometeu e com certeza, o Brasil depois dos nossos governos, aonde a gente passa é um Brasil melhor.

São 45 anos de muito orgulho, de muita luta, de enfrentamentos, porque temos uma elite que não aceita o povo de baixo ascender. Hoje, na política você tem exploradores e explorados. Toda vez que alguém luta para que o povo de baixo tenha uma dignidade, a elite age contrária. Tanto que fizeram uma Reforma Previdenciária com o único objetivo, tirar o direito de aposentadoria do trabalhador, da classe trabalhadora, para que o rico fosse mais rico e o pobre fosse mais pobre.

Então, o PT tem avançado e nós nos reunimos com muito orgulho para fazer a comemoração desses 45 anos em São Bernardo e, agora, o Brasil petista vai estar no Rio de Janeiro, o presidente Lula já confirmou presença, ministros. Enfim, nossos deputados, sobretudo federais do Brasil, estarão se reunindo no Rio de Janeiro para comemorar essa importante data.

É importante dizer, falei na Câmara Municipal, vou reiterar, na história do Brasil, o único partido que governou por tanto tempo chama-se Partido dos Trabalhadores. O PSDB chegou ao governo, fez dois governos com o Fernando Henrique Cardoso. Antes disso, tivemos Itamar Franco, tivemos Collor, depois Fernando Henrique. Antes disso, antes da ditadura, também os partidos governavam por um, dois governos. Ele ganhou em 2002, 2006, 2010, 2014. Aí deram o golpe. Prenderam o presidente Lula. Por quê? Porque senão ele voltaria a ser o presidente. Prenderam, foi anulada a prisão, os processos. Ele voltou e é o presidente.

O Partido dos Trabalhadores é o único partido na história do Brasil a governar esse país por cinco mandatos, democraticamente, contra o capital, contra a grande imprensa, enfim, mas em prol do povo brasileiro.