Editorial

A tragédia das queimadas

As queimadas e os incêndios florestais se alastraram em quase todo o País e a fumaça das queimadas está encobrindo o céu em grande parte do Brasil. Queimadas na Amazônia, Pantanal e no Sudeste são as principais responsáveis por esse cenário somado à dispersão de partículas poluentes que se acumulam na atmosfera e o tempo seco dificulta a dispersão dos poluentes.
O Map Biomas Fogo apontou que o problema vai além das mudanças climáticas, pois há o manejo inadequado do fogo, posto que para ter início precisa da ação humana.
A meteorologista Josélia Pegorim afirmou: “Ninguém mais vê céu azul nesse país”, ao destacar que a fuligem e outros poluentes estão encobrindo o céu de norte a sul, bloqueando a luz azul que normalmente dá o tom claro ao céu. Cenário que reflete a gravidade das queimadas.
O recorde de queimadas é agravado pela seca extrema, que atinge 55% de todo o território brasileiro e é a mais extensa já registrada, abrangendo 4,6 milhões de km². De acordo com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), ano passado, do começo de agosto até meados de setembro, foram 85 focos de queimadas, neste ano, no mesmo período, já são 3,1 mil focos de queimadas, um número 37 vezes maior.
O Brasil já registrou mais de 164 mil focos de incêndios florestais em 2024, um aumento de 107% na comparação com o mesmo período em 2023. Entre os estados mais afetados estão: Mato Grosso, com 10.593 pontos de queimadas em setembro; seguido por Pará, com 9.121; Tocantins, com 3.178. De janeiro até agora, 50,1% dos pontos de queimadas aconteceram no bioma da Amazônia, 32,4% no Cerrado, 8,8% na Mata Atlântica, 6% no Pantanal e 2,6% na Caatinga.
Imagens dos animais com patas queimadas, mortos ou tentando fugir do fogo, atravessando rodovias nas proximidades das matas são chocantes. Muitos ainda morrem atropelados na tentativa de fuga. Algo inaceitável, tendo em vista que milhares de espécies já beiram a extinção no Brasil.
Segundo dados do Copernicus, programa de observação da Terra da União Europeia, a Amazônia foi a região do planeta que mais emitiu gases agravantes do efeito estufa, como o dióxido de carbono, nos últimos dias. Em menos de uma semana, a Chapada dos Veadeiros perdeu mais de 10 mil hectares dentro e fora do parque em Alto Paraíso de Goiás, de acordo com o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio). O tamanho da área é equivalente à cidade de Vitória, no Espírito Santo. O Pantanal sofre a pior estiagem dos últimos 70 anos. Desde o começo do ano até o início de setembro, a área queimada no estado chegou a 2,2 milhões de hectares.
Devido às queimadas, uma enorme massa de fumaça cobriu quase 60% do território nacional, chegando até mesmo em outros países na América do Sul, como Argentina e Uruguai. No domingo (8), Porto Velho (RO), Rio Branco (AC) e São Paulo foram classificadas como as três cidades com maiores níveis de poluição do mundo, de acordo com o monitoramento da IQAir, empresa suíça de tecnologia de qualidade do ar.
Mesmo diante do cenário alarmante no País, com 6,7 milhões de hectares já destruídos em 2024, o governo federal não decretou estado de emergência relacionado às queimadas e à crise climática. A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, anunciou pacote de ações incluindo investimentos de R$ 500 milhões em obras de dragagem. Já a Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb) suspendeu, temporariamente, as autorizações de queima no Estado. Somente poderão ser emitidas autorizações para queima prescrita que tenha por objetivo prevenir incêndios – criação de aceiros negros – ou mediante solicitação direta da Secretaria da Agricultura com finalidade fitossanitária.
Mais uma vez, os brasileiros assistem o mesmo filme de sempre, primeiro as tragédias acontecem, depois, bem depois, é tomada alguma iniciativa. Prevenção, planejamento, investimentos e fiscalização contra queimadas criminosas, praticamente, são inexistentes em todo o território nacional. Logo, virão outros capítulos.

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