Editorial

A tragédia do metanol nas bebidas

O Brasil vive mais uma tragédia, a morte de intoxicação de pessoas por bebidas alcoólicas adulteradas, como gin, vodka e whisky, com metanol. As intoxicações já provocaram casos de internação grave, perda de visão e até mortes, nas últimas semanas.
No Estado, há 52 notificações por suspeita de intoxicação por etanol, sendo 10 confirmados e 36 em investigação. Seis bares e distribuidoras foram interditados e 942 garrafas foram apreendidas durante operações integradas de fiscalização nesta semana. A Capital registrou interdições nos bairros Bela Vista, Itaim Bibi, Jardins e Mooca, enquanto na Grande São Paulo, bares e distribuidoras foram fechados em São Bernardo e Barueri.
Além disso, uma distribuidora teve a inscrição estadual suspensa preventivamente, e outras três estão sob análise para possível suspensão, enquanto a Secretaria da Fazenda (Sefaz) rastreia os fornecedores das bebidas adulteradas.
Em São Bernardo, há 14 casos confirmados e quatro mortes associadas ao consumo de bebidas contaminadas e nove internações na rede hospitalar pública e privada. A Prefeitura confirmou, na quarta (1) a quarta vítima: um homem de 49 anos que morreu em casa. Os outros óbitos são de um homem de 38 anos, um de 58 anos, e do advogado Marcelo Macedo Lombardi, 45. Todos os casos ainda aguardam confirmação do IML (Instituto Médico Legal). De acordo com a Secretaria de Saúde, a cidade contabilizava, até quarta (1), 13 notificações ligadas ao metanol.
O governador Tarcísio de Freitas, na terça (30) de setembro, anunciou a implantação de um gabinete de crise, para coordenar as ações das secretarias da Saúde, Segurança Pública, Fazenda e Justiça. Segundo o governo, há cinco inquéritos instaurados para investigar os casos suspeitos. “Montamos um gabinete de crise para tratar da intoxicação por metanol. É um problema estrutural do Brasil”, afirmou Tarcísio.
No País, foram registradas 59 notificações de intoxicação por metanol, de acordo com o Centro Nacional de Informações Estratégicas em Vigilância em Saúde (CIEVS Nacional). “O Ministério da Saúde enviou, na terça (30) de setembro, uma nota técnica a todos os estados e municípios, orientando que qualquer suspeita de intoxicação por metanol seja notificada imediatamente. O documento também traz diretrizes para que os serviços de saúde adotem a condução adequada dos casos e garantam a comunicação rápida das ocorrências”.
O metanol é um líquido incolor, inflamável e solúvel em água, é utilizado em solventes, combustíveis e produtos industriais e não deve estar presente em bebidas alcóolicas, assim sua presença indica adulteração, pois é altamente perigoso quando ingerido.
Inicialmente, a bebida adulterada com metanol, após ser ingerida, ataca o fígado, que metaboliza o metanol, produzindo formaldeído, altamente tóxico e que vira ácido fórmico, que se acumula no corpo. No sistema nervoso central, o ácido fórmico compromete a medula e o cérebro, gerando confusão, convulsões, podendo levar a pessoa ao coma. Também ataca o nervo óptico, ocasionando visão turva, manchas e até cegueira irreversível. Ainda pode provocar insuficiência pulmonar e renal. Além disso, bloqueia a produção de energia nas mitocôndrias levando à falência celular. Os sintomas ocorrem de 12 a 14 horas após a ingestão. Os sintomas podem parecer uma ressaca comum, mas a evolução é rápida e exige atendimento imediato.
Os casos e mortes por bebidas adulteradas por metanol são mais uma evidência do descontrole da fiscalização de cargas piratas, contrabandeadas ou roubadas por parte das autoridades. É necessário um pacto nacional, que envolva os setores mais representativos do agro, os governos, Ministério Público e sociedade em geral em prol de uma política mais eficaz de controle. É preciso preservar a saúde e a segurança dos brasileiros. Não podemos perder mais tempo, sob pena de continuarmos a ter mais mortes.

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