Editorial

A violência nas disputas eleitorais

A violência tem ganhado papel de protagonista no cenário eleitoral de 2024, seja no Brasil ou nos Estados Unidos.
Em julho, nos Estados Unidos, o ex-presidente e candidato à Casa Branca, Donald Trump, enquanto realizava um comício na cidade de Butler, na Pensilvânia, foi vítima de uma tentativa de assassinato, de acordo com Kevin Rojek, agente especial do FBI. Barulhos de tiros foram ouvidos e o candidato republicano foi alvejado na orelha, por um tiro de raspão, de um fuzil AR-15. Já no último domingo (15) de setembro, Trump sofreu uma nova possível tentativa de assassinato, enquanto jogava uma partida de golfe, em West Palm Beach, na Flórida. Foi a segunda vez, em dois meses, que o republicano foi alvo de violência armada durante a corrida eleitoral.
Esses atentados evidenciam, não só que violência cada vez mais tem moldado a política americana, seja com ameaças de bombas ou tentativas de assassinato, mas expondo o verdadeiro clima de raiva provocado por Trump e contra ele. “Uma das coisas que mais me preocupa, agora, é a normalização da violência política em nosso sistema. Ela está aumentando”, afirmou o deputado democrata Jason Crow, do Colorado, que também é membro de uma força-tarefa bipartidária que investiga a tentativa de assassinato de julho contra Trump.
O ex-presidente reclamou que os democratas o fizeram dele um “alvo” ao chamá-lo de ameaça à democracia e afirmou que: “essas são pessoas que querem destruir nosso país”. Trump ainda os chamou de “inimigo interno”. Para piorar a situação, o empresário Elon Musk postou: “Ninguém está tentando assassinar Biden/Kamala”. Pouco tempo depois, o bilionário apagou a publicação.
No Brasil, em ano de eleições municipais, a disputa pela Prefeitura de São Paulo tem exposto uma campanha sem limites. Os quatro principais candidatos, o prefeito Ricardo Nunes (MDB), Guilherme Boulos (PSOL), Tabata Amaral (PSB), José Luiz Datena (PSDB) e Pablo Marçal (PRTB) têm promovido diversas trocas de ofensas e um festival de apelidos de baixo nível nos debates televisivos em que participam.
No domingo (15), a situação foi ainda pior. O candidato José Luiz Datena (PSDB) atingiu o postulante Pablo Marçal (PRTB), com uma cadeira, em debate promovido pela TV Cultura. A agressão ganhou, inclusive, repercussão internacional.
Com este lamentável episódio, ficou evidente que para os candidatos não há limites para atos e fatos na disputa, transformando a disputa eleitoral da maior metrópole da América Latina, em um cenário de vale-tudo, inclusive a violência física.
Marçal, de um lado, afirmou que irá pedir a cassação do registro de Datena e disse: “Nós vamos para a guerra. Foi só um esbarrão, não é, Datena?” e ainda que, no seu entendimento, a cadeirada deveria ser enquadrada juridicamente como uma “tentativa de homicídio”. Já Datena, divulgou nota em que reconhece o erro, mas diz não se arrepender e que repetiria a cadeirada diante dos ataques que Marçal tem feito contra ele e outros candidatos.
Divergências de ideias políticas devem ser debatidas por meio da palavra e não de atos de violência física ou atentados de assassinato. A truculência e a desagregação para angariar a simpatia dos eleitores desacreditados com a política tem ganhado força nas disputas eleitorais, mas precisam ser contestadas, no discurso e no voto, posto que é necessário manter, acima de tudo, a civilidade, seja em um debate eleitoral, em um comício ou até mesmo em um campo de golfe.

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