
Eu entrei para trabalhar na Volkswagen, em 2 de maio de 1966, como escrevente, no setor de Alimentação, mais conhecido como Cozinhas e Refeitórios. No dia em que fui fazer os testes, o setor de seleção de pessoal mensalista ficava junto à portaria Anchieta. Lembro-me que da sala onde estava, podia avistar e sentir os trancos de um enorme bate estaca, que fincava gigantescas colunas de concreto, dando início à construção da Ala I, que viria a ser o setor de prensas pesadas.
Terminado os testes, fui encaminhado para o escritório do setor de Alimentação, para uma entrevista pessoal, com o gerente Sr. Zeiller e sua secretária Anelise, instalados provisoriamente dentro de uma sala, que na verdade era o depósito de bebidas e conservas raras, uma vez que a sala da gerencia ainda estava em construção. Após a entrevista, fui aprovado e encaminhado para o Departamento Pessoal.
Como era a grandeza dessa empresa e algumas curiosidades.
Nessa época havia 5 cozinhas, 9 refeitórios, padaria, confeitaria, centro de preparo de alimentos, 3 câmaras frias, tudo muito grande. Eram 2.301 empregados mensalistas e 10.807 horistas com 3.948.815 refeições servidas.
Possuía um serviço de correio, com uma central de distribuição tanto das correspondências internas, como das enviadas e recebidas pelos empregados, que eram transportadas a cada setor, pelos mensageiros que faziam a entrega montados em bicicletas.
Contava com agência bancária – uma central e outros postos espalhados dentro de cada ala de trabalho, para facilitar o uso pelos empregados. Duas vezes ao mês era feito o pagamento e adiantamento dos salários dos empregados horistas, enquanto que o pagamento dos mensalistas era depositado diretamente na conta bancária.
A remuneração era feita nos dois turnos de trabalho, dentro de cada setor, por um funcionário do banco e outro da fábrica, que percorriam cada setor, arrastando o grande malote de dinheiro, pois tudo era pago em dinheiro vivo. Para cumprimento desta tarefa, eram mobilizados empregados do departamento pessoal e da folha de pagamento e o banco convocava funcionários de outras agencias de fora da fábrica.
A fábrica dispunha de setores de segurança patrimonial e de bombeiros, serviço médico com várias especialidades médicas, central telefônica, uma enorme central de computação IBM, marcenaria e carpintaria, vidraçaria, serviço de jardinagem que cuidava dos jardins e plantas dos escritórios, oficina mecânica para manutenção e consertos dos veículos da frota interna, manutenções mecânica, elétrica e hidráulica em cada ala. Tinha até uma gráfica, onde eram produzidos todos os formulários em uso na fábrica e que também fazia a encadernação de livros.
Como a área da fábrica era colossal, havia a necessidade da vigilância da mesma, principalmente à noite. Havia um canil com enormes cães pastores alemães, que acompanhavam os seguranças, nas rondas pela fábrica. Neste particular, um relato curioso, que aconteceu comigo: certa vez o cuidador dos cachorros, veio ao setor onde eu trabalhava com uma requisição de conhaque, dizia ser para os cachorros.
Prontamente separei dois litros de conhaque Dreher, que o cuidador recusou pedindo que trocasse por um francês de melhor qualidade, pois segundo ele os cachorros não podiam tomar qualquer conhaque – fiz a troca mas, não sei se os cachorros chegaram a tomar…
Nas sextas feiras chegava um caminhão, que vinha da Fazenda Bobeta, instalada em Itapecerica da Serra, de propriedade do presidente da VW, sr. Schultz Wenk. O caminhão vinha coberto com uma lona e trazia a produção da semana, de tudo o que era produzido, pelos arrendatários da fazenda.
Chegavam legumes, carne de porco, tambores de leite, ovos, tudo muito fresco, que obrigava as nutricionistas a encaixar nos cardápios semanais. O leite tinha destino certo, pois depois de coalhado, era usado na fabricação de bolo de ricota, que os comensais adoravam.
Trabalhei nessa grande empresa, que muito me ensinou, onde constitui família, por quase trinta anos, me desligando dela em 30/11/1993.
Roberto Tanaami – integrante da AME (Associação dos Amigos da Memória de São Bernardo).


















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