Gastronomia

Abril, o mês da atemoia, a fruta em formato de coração que conquista o paladar

Em abril começa a colheita da atemoia, fruta de sabor adocicado e textura cremosa que vem ganhando espaço na mesa dos brasileiros. Resultado do cruzamento entre a cherimoia e a fruta-do-conde, tem formato de coração, lembrando a fruta-do-conde, mas apresenta polpa mais macia e menos sementes. Sua doçura equilibrada e leve toque cítrico fazem dela uma opção versátil, consumida in natura ou em preparações como sucos e sobremesas.

A atemoia surgiu nos Estados Unidos, em 1908, segundo o boletim técnico “A Cultura da Atemoia”, da CATI (Coordenadoria de Assistência Técnica Integral), a fruta é relativamente nova para os brasileiros. Consta no boletim que há relatos de que foi introduzida no Brasil em 1950, em São Bento do Sapucaí e, posteriormente, em Caçapava. Dessas localidades, se espalhou e hoje o País já é um dos principais produtores de atemoia, inclusive com bom volume de exportação, conta o assistente agropecuário Luiz Leitão, coordenador da CATI Itapetininga que atua na articulação dos diferentes atores da cadeia produtiva da fruta.

Os estados de São Paulo e Minas Gerais respondem por 47,1% e 45,6%, respectivamente, do total de frutos cultivados no país, conforme dados do Censo Agropecuário do IBGE de 2017, segundo Ricardo Harakava, pesquisador do Instituto Biológico, centro de pesquisa ligado à Secretaria de Agricultura e Abastecimento de São Paulo, que atua na produção e disseminação de conhecimento e tecnologias para o agronegócio e biossegurança, inclusive para o cultivo da atemoia. Em São Paulo, a produção está concentrada em municípios como Pilar do Sul, Itapetininga, Paranapanema e São Miguel Arcanjo.

Com cultivo adaptável ao clima tropical e subtropical, a atemoia é aposta promissora da fruticultura nacional. Além do sabor agradável, a fruta atrai consumidores por seus benefícios nutricionais: rica em fibras, vitaminas do complexo B e antioxidantes, ela auxilia na digestão e fortalece o sistema imunológico. A Cooperativa Agroindustrial APCC, de Pilar do Sul, especializada em frutas de alto padrão, informou que atualmente 60% de sua produção de atemoia são destinadas ao mercado externo e 40% ao mercado interno, mas essa proporção pode se inverter dependendo da demanda.  

Visando aumentar a produção dos atuais pomares e abrir caminho para ampliar áreas plantadas, fruticultores e pesquisadores, com apoio dos assistentes agropecuários da CATI e do Instituto Biológico, estão buscando novas formas de combater a principal praga da cultura: os fungos, organismos que causam a antracnose. Trata-se de uma doença que ataca principalmente ramos jovens das plantas e frutos, reduzindo a produtividade e prejudicando a qualidade dos frutos para a comercialização, explica Harakava, do Instituto Biológico. “Na atemoia ocorrem várias espécies do fungo Colletotrichum, porém, nossos estudos mostraram que a antracnose severa é causada por uma linhagem da espécie Colletotrichum theobromicola”, frisa.

Antracnose

O técnico agrícola e produtor Valdir Tanabe, que se dedica à cultura da atemoia há 33 anos, sendo os últimos 18 anos também como consultor técnico, relata que ouviu falar desse fungo que causa antracnose grave há cerca de oito anos. “Vi pela primeira vez no campo, numa plantação em Caçapava tomada pela praga, há oito anos. E me assustei porque o controle lá estava difícil e lembrei de uma doença parecida que, na década de 80, acabou com as plantações de pimentão na região de Itapetininga. Voltei de lá e já pedi uma reunião urgente com a CATI para iniciar a discussão sobre possíveis providências para evitar a disseminação da praga para outras regiões produtoras de atemoia, principalmente com relação a mudas, as quais poderiam conter inóculos da doença, mesmo sem apresentar sintomas”, relata.

Assim, a partir daquela data, a CATI de Itapetininga começou a somar esforços com consultores e produtores na implementação de estratégias para conter a antracnose e melhorar a cadeia produtiva em seus vários aspectos. Em abril de 2023, com a realização do primeiro encontro técnico da atemoia, o Atemoia TEC1, o Instituto Biológico relatou pela primeira vez a ocorrência do agente causal da nova antracnose em amostras de frutos e ramos de atemoia, o que motivou a estruturação de um novo Grupo de Trabalho, composto por consultores, pesquisadores, produtores e extensionistas da CATI. “Nosso objetivo era conscientizar os agricultores sobre o risco da entrada da praga porque manejo eficaz, ninguém tinha”, relata Tanabe. “Nessa época, em Mogi das Cruzes quase não se produzia mais atemoia”, diz. Foi quando o Instituto Biológico entrou em cena instruindo os produtores a diversificar os defensivos usados na cultura e, paralelamente, passou a estudar e entender a praga e o momento certo de atacá-la. “Assim, voltamos a produzir atemoia”, frisa o técnico agrícola.

Bioinsumos

Harakava, juntamente com César Júnior Bueno, são os pesquisadores do Instituto Biológico envolvidos na empreitada da atemoia, que já tem bons resultados. “Com os engenheiros agrônomos da CATI, consultores e produtores de atemoia, estamos procurando aprimorar o manejo sustentável da doença”, conta ele. Além da diversificação de defensivos e da melhor maneira e momento do cultivo de aplicá-los para serem mais eficientes, hoje os fruticultores já contam com produtos biológicos para controlar a praga.

“Esses produtos, principalmente, à base de bactérias do gênero Bacillus já são utilizados para o controle da antracnose em outras culturas”, afirma o pesquisador. Mas ele ressalta que ainda não existem estudos detalhados sobre o uso desses produtos para o controle da antracnose severa da atemoia. Porém, alguns produtores relatam que têm obtido bons resultados no campo. Além disso, os bioinsumos são ferramentas importantes para reduzir o emprego de defensivos químicos, pondera Harakava. “A combinação balanceada dos dois tipos de produtos, adaptada para cada situação, deve ser a melhor estratégia para o manejo da doença”, finaliza.

Atemoia TEC

Desde a primeira mobilização, os assistentes agropecuários da CATI continuam articulando os diferentes agentes da cadeia produtiva da atemoia e disponibilizando a estrutura da instituição para eventos e pesquisas, como as conduzidas pelo Instituto Biológico. Desde então, foram realizadas mais duas edições do Atemoia TEC, com apoio da CATI, evento que reúne produtores, pesquisadores e consultores para compartilhar conhecimento técnico sobre o controle da antracnose. Segundo Leitão, o encontro se tornou anual e itinerante.

Na edição mais recente, realizada em março, em Capão Bonito, mais de 250 participantes, oriundos de 28 cidades, a maioria paulistas, mas também de Minas Gerais, Paraná, Santa Catarina e Distrito Federal, acompanharam as discussões que, além da atemoia, abordaram também outras culturas frutíferas. A próxima edição, em 2026, será em Holambra II. Com um cultivo adaptável ao clima tropical e subtropical, a atemoia segue conquistando produtores e consumidores, consolidando-se como uma aposta promissora para a fruticultura nacional. A colheita da fruta se prolonga até outubro, época que é mais fácil encontrá-la nos mercados. 

Foto: Divulgação

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