Negócios

ACIGABC debate soluções para a escassez da mão de obra na construção civil

Máximo Menezes, Milton Bigucci Júnior, Bruno Patriani, Marc Wey Hofling e Ilidio Fernandes

A Associação dos Construtores, Imobiliárias e Administradoras do ABC (ACIGABC) promoveu, nesta terça (5), o debate: “Escassez de Mão de Obra na Construção Civil”, com os diretores das maiores empresas do setor do ABC: Milton Bigucci Junior (MBigucci), Bruno Patriani (Construtora Patriani), Máximo Menezes (Máximo Aldana Construtora e Incorporadora), Marc Wey Hofling (MGtec) e Ilidio Fernandes (Martinez e Fernandes), empresa do Grupo Motiró.

De acordo com dados do Sindicato da Indústria da Construção Civil (Sinduscon-SP), 82% das construtoras estão com dificuldade de contratação, 100% dos canteiros de obras estão com 20% a menos de mão de obra, 76% das construtoras revisaram seus prazos de entrega, 74% das construtoras têm aumentado salário e benefícios de seus funcionários. Nos últimos 12 meses a mão de obra aumentou 9,57% contra 5,83% de aumento de material.

A falta de mão de obra qualificada, a escassez de trabalhadores, segundo Ilidio Fernandes, gera reflexos que vão além da dificuldade para contratar e preencher as vagas disponíveis. “Estamos falando de obras com desvios em cronogramas e com estouros de custo, que põe em risco a sustentabilidade financeira dos negócios”, diz.

Além disso, há outro desafio, o envelhecimento dos trabalhadores na mão de obra. “Um estudo mostra que há seis anos, os trabalhadores tinham em média 36 anos, hoje, 2025, este número chega em 42 anos, ou seja, um aumento de 16% na idade média”, revela o empresário.

Mas, afinal, por que falta mão de obra qualificada no Brasil? Os empresários são unânimes em afirmar que a carreira na construção civil sofre com a baixa atratividade, pois seu trabalho está associado a serviços físicos, difíceis e perigosos. E que, atualmente, os jovens têm preferido atuar como entregadores de aplicativos ou motoristas, atividades, que não necessariamente oferecem os melhores salários, mas são mais flexíveis nos horários.

O presidente da ACIGABC, José Julio Diaz Cabricano, diz que a falta de mão de obra é um problema que aflige o país, em todos os segmentos. “Há um verdadeiro apagão de mão de obra, principalmente, da qualificada e temos essa obrigação, talvez até com um pouco de atraso, de desenvolver, de novo, o potencial das pessoas visando o trabalho, visando o futuro e o seu desenvolvimento, de onde a pessoa quer chegar e acho que conseguimos fazer isso a partir do treinamento básico das pessoas”, afirma.

Confira o que cada empresário pensa sobre o tema.

Máximo Menezes (Máximo Aldana Construtora e Incorporadora)

O executivo aponta como possível solução para a escassez da mão de obra, a criação de um plano sucessório. “Falta pensar na continuidade dentro das empresas, ou seja, como deixar os sucessores. Também falta formação técnica para a nova geração e, para os trabalhadores de serviço braçal, há uma dificuldade de aplicar um plano de carreira”, diz.

De acordo com Máximo, o propósito, a cultura e o plano de carreira são o que cativam a mão de obra. “Não é só o salário, como antigamente, em que o trabalhador só pensava em sobreviver, é onde ele pode chegar”, avalia.

À Folha, o construtor falou o que tem sido feito na construtora Máximo Aldana para reverter o atual cenário de falta de mão de obra. “Estamos focando na base, focando em novos profissionais. É investindo na base que vamos conseguir colher, no futuro, bons frutos de novos operadores, mas não só isso, é prover para o nosso colaborador um ambiente de trabalho seguro, a onde ele possa ver possibilidade de crescimento envolvido com a cultura da empresa, também pensar em novos processos construtivos e a industrialização”, destaca.

Para Máximo, a escassez de mão de obra também está relacionada à falta de industrialização na construção civil. Assim, os colaboradores estão indo para outros segmentos.

Milton Bigucci Júnior (MBigucci)

Na avaliação do diretor da MBigucci, a escassez de mão de obra não vem ocorrendo só no setor da construção civil, mas em todos os setores do Brasil. “Estamos vendo uma certa dificuldade em reter pessoas, talento, principalmente na construção civil. A construção civil não tem aquele sex appeal, o jovem, hoje, às vezes não quer ser pedreiro, carpinteiro, nem ajudante e prefere ter uma profissão mais autônoma como Uber, como entregador de aplicativo, que dão mais liberdade”, conta.

Porém, Milton Júnior aponta que na construção civil, o plano de carreira é “muito mais rápido”, pois o colaborador chega como ajudante geral, ganhando um salário de até R$ 2,8 mil, mas rapidamente ele chega a almoxarife, apontador, oficial, que pode ganhar, dependendo da produtividade, até R$ 12 mil por mês. “Queremos mostrar isso para a população e para os jovens. O filho do pedreiro tem que querer ser pedreiro, é uma profissão digna, o canteiro de obras, hoje, praticamente uma fábrica e essa profissão do ajudante, sendo pedreiro, carpinteiro, gesseiro, ele vai ter oportunidades de vida muito melhores para ele e sua família”, enfatiza.

Bruno Patriani (Construtora Patriani)

O empresário diz que a escassez da mão de obra é um dos fatores que mais contribui para aumentar os custos da obra como um todo e consequentemente do valor dos apartamentos. “Mas, é papel das construtoras é de promover um futuro para os jovens. Hoje, vemos os canteiros com a idade média aumentando. Então, isso quer dizer que o filho do mestre, do engenheiro, do almoxarifado, ele não continua nestas carreiras. Vemos uma perda, uma saída maior, do que nos últimos dez anos, por conta de outras atividades, que eles estão buscando”, afirma.

Para Bruno, o papel da construção civil é promover e vender a ideia de que no canteiro da construção civil há um futuro, um planejamento de carreira. “Quem começa como pintor, pedreiro pode sair com outros cargos, até mais remunerados”, diz.

Para tentar reverter esse cenário, a construtora Patriani investe em tecnologia e industrialização do processo produtivo. O empresário conta que firmou parceria com a Porsche Consulting para avaliar os processos da obra e, assim, em menos tempo, obter uma produtividade maior. Bruno conta que na Alemanha, visitou uma obra na qual havia apenas seis pessoas, tamanho o desenvolvimento tecnológico e industrial atingido pelo setor. “Precisamos rever nossos procedimentos para melhorar a produtividade e reduzir a mão de obra”, ressalta.

Marc Wey Hofling (MGtec)

De acordo com Marc, para conseguir suprir a deficiência de mão de obra no ABC, MGtec tem apostado em equipes próprias, montando e treinando os colaboradores, apontando um plano de carreira claro para esses funcionários, de forma que eles percebam que trabalhar em obra, hoje, tem um potencial de ganho, de estrutura uma família. “É preciso investir no funcionário, dar treinamentos, mostrar que eles podem, dentro de certo tempo, subir na carreira em cargos dentro da obra, como carpinteiro oficial ou mestre de obras, ganhando salários muito bons, de R$ 10 mil a R$ 14 mil”, diz.

Segundo o empresário, é preciso mostrar o lado positivo de trabalhar em uma obra. “A obra, vista como um ambiente de trabalho pesado, parecendo um pouco difícil, na prática esse trabalhador vai ter qualidade de trabalho, horário para chegar e sair, ter qualidade de vida”, frisa.

Ilidio Fernandes (Martinez & Fernandes)

O problema da escassez de mão de obra não é uma novidade, para Ilidio Fernandes. “O que está acontecendo agora é uma escassez de mão de obra qualificada. O que estamos tentando promover? Primeiro, parcerias com escolas técnicas. Tivemos uma reunião com o SENAI, que está começando a desenvolver treinamentos para levarmos o pessoal para esses cursos e a gente absorver essa mão de obra. Outra ação é tentar melhorar o ambiente de trabalho dessas pessoas para que elas se mantenham nos seus empregos, porque, hoje, existe uma fuga muito grande de funcionários da construção para trabalhos alternativos em que a pessoa tenha uma flexibilidade de horário, como por exemplo, motoristas de aplicativo”, conta.

Para o empresário, é preciso mostrar para o funcionário que ele pode ter uma linha de crescimento dentro da construção civil, como ele tem na indústria. “Então, ele não vai entrar pedreiro e morrer pedreiro. Ele pode entrar como pedreiro e ir galgando outras atividades que vão melhorar tanto a capacidade dele de conhecimento, quanto de salário”, destaca. 

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